Insatisfação

Acordo... mas não me sinto vivo. Tranco a porta da casa e saio livremente pelas ruas sem rumo planejado. O tempo se repete insuportavelmente todos os dias, a mudança é rejeitada e tudo permanece como sempre esteve: um caos. Aí está o mundo que todos vocês queriam. Aí está a sociedade promissora que tanto se sonhou. Vagando por uma rua deserta, me deparo com o que há de pior na essência humana. É até um clichê bastante chato ter que discorrer tamanha revolta que alimento em minha desesperançosa alma. O que está havendo? Onde estão as flores desabrochando lindamente nas manhãs agradáveis? Onde estão os pássaros que, com suas belas canções, nos trazem a paz de espírito desejada? Onde? Em suma: Onde está a paz?

O maniqueísmo excessivo abalou negativamente o sonho que pensei que jamais teria fim. Vejo papéis e folhas voando, cães e gatos se engalfinhando, crianças chorando perdidas, pessoas pobres sendo agredidas pela autoproclamada "elite"... o pior é perceber que o sonho teve fim... o pesadelo agora, que tomou o lugar, é que não vai ter.

Vejo fogo queimando e condenando almas inocentes. E continuo andando... tristemente observando o que se tornou o mundo, antes idealizado por pessoas de boa fé. Agora nada mais é do que um abismo.

As pessoas já não conseguem mais ver, pois a indiferença varreu seus ideais humildes. Já não se ouvem mais palavras motivadoras, com a clara intenção de convencê-las do contrário. Já não se sente mais o cheiro da chuva, das flores, da grama molhada... apenas lixo materializado por mentes insolentes. Já não se sente mais o sabor dos prazeres simples que a vida nos traz... foram esquecidos e mortos. Já não se dão mais abraços afáveis, não há mais toque... apenas o de recolher e violento.

Chegamos à pergunta inegavelmente pertinente:

Até quando a humanidade, de certa forma, irá continuar teimando em perder seus cinco sentidos?