Capuz Vermelho #5: "Coletando informações"


"Ainda que o futuro pareça distante e assustador, eu não o temo. O passado, este sim é que me amedronta, pois é dele que estou fugindo. Já o presente, é apenas um momento crucial no qual devo agir corretamente para evitar que o futuro seja aquilo que penso... ou para aproveitar o suficiente esquecendo o passado e ignorando o futuro. No mais, o presente é sempre importante. Um dia ele já foi futuro, após umas horas já será passado... tudo depende da forma como você o espera, vivencia e relembra. 

                                                                                           Trecho do Diário de Rosie Campbell; Pág 52
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CAPÍTULO 05: COLETANDO INFORMAÇÕES  

Já próximo do início da alvorada, os jovens viajantes aprontavam as duas pequenas malas, após dormirem pouco, tanto pela ansiedade em dar continuidade à investigação quanto pelo estresse passado na mansão do colecionador. Rosie, sentada na cama, já arrumada para a próxima viagem, escrevia com gosto no seu diário. Tal ação chamou a atenção de Hector enquanto o mesmo preparava seu pequeno arsenal de armas.

- Err... Rosie, posso saber o que tanto escreve nesse diário?

- Meu diário, minhas experiências, meus segredos. Nada que você precise saber. - disse a jovem lançando um sorriso cínico.

- Tudo bem... desculpe a minha curiosidade. Mas poderia ter respondido de forma melhor.

- Eu não pensei em nenhuma outra maneira de responder. Afinal, foi cabível para uma pergunta como a sua.

- Está bem então. Não irei mais perguntar nada a respeito de seu diário, pois estarei com muito medo de uma resposta que venha a me calar de uma vez por todas. - respondeu Hector, com um ar de ironia.

- Ah, já chega. Quero sair logo daqui. Já tratou de arrumar um motorista? - disse Rosie, levantando-se abruptamente para guardar o diário.

- Não sei porque está tão irritada. Se minha curiosidade a incomoda, então vejo que isto irá se agravar mais pra frente. E não, ainda não contratei um motorista, como se isso fosse algo muito simples. - disse Hector, desconfortável perante ao comportamento aparentemente ríspido de Rosie.

- E o que está esperando? Melhor irmos logo. Raizenbool não é do tipo de cidade que costuma receber calorosamente forasteiros.

- Então quer dizer que há uma grande chance de sermos apedrejados até a morte, só pelo fato de você ter um aparente conhecimento da cidade e de sermos viajantes? - perguntou Hector.

Rosie lhe lançou um olhar de fúria, como se se sentisse mal-compreendida pelo seu companheiro, o que logo a fez irritar-se definitivamente.

- Quer saber? Já vi que isso vai ser mais terrível do que imaginei. - disse a jovem, logo em seguida saindo do quarto batendo a porta fortemente.

Na saída do hotel, Rosie esperava ansiosamente, batendo levemente seu pé esquerdo no chão, por Hector. O caçador, aos olhos da moça, surgiu com as mãos abanando, o que logo de imediato a aborreceu.

- Ué, cadê o motorista?

- Não consegui. Mas tenho estas duas passagens de trem. Ele sai hoje às 13:00. - disse Hector, tentando amenizar o estresse de sua companheira.

- 13:00!? Hector, você enlouqueceu!? Não podemos perder tempo! - esbravejou Rosie.

- Rosie, o que há com você hoje? Está irritada desde que acordou. Sugiro que se acalme, pois não foi fácil para mim conseguir isto, é a nossa única forma de chegarmos até lá, infelizmente.

- Também não está fácil pra mim... ter que suportar esse seu ego... sei que é muito cedo pra dizer isso, mas... cansei de você. Vou conduzir minha própria investigação. Não preciso de um guarda-costas que não entende minha independência.  - cogitou Rosie, deixando o caçador sem reação.

- M-mas Rosie... isso é ridículo. Nós estamos juntos nesse caso porque seu pai sugeriu, e com razão. Só estamos no começo. Você pode muito bem valorizar sua ideia de que sabe se defender, mas a esta altura a situação atual denuncia que você tem grandes chances de ser a vítima fatal se caso um movimento for dado pelos membros da sociedade contra nós. Eu sou a pessoa ideal para protege-la, e o que houve ontem à noite só provou isso. - disse Hector, tentando convence-la.

- Pra mim não importa o que você pensa ou deixa de pensar sobre minha capacidade de se defender. Não se iluda tão facilmente se acha que pode me proteger de tudo e de todos. Você é só um caçador metido a guarda-costas que acha que sabe proteger alguém, sendo que nem mesmo a morte do próprio pai conseguiu evitar!

- Rosie... está indo longe demais... melhor que se acal...

- Chega! Vou procurar alguém que me leve até Raizenbool e encontrarei Alexia muito antes de você. Nem ouse em tentar me seguir. - disse Rosie, colocando seu dedo indicador próximo à face de Hector.

A jovem pôs-se a dar as costas para Hector, que ficara sem saber a real causa para ela se sentir assim. O jovem caçador apenas fitou o chão por alguns minutos, refletindo sobre como reverter tal situação. Mas já havia uma suspeita formando-se em sua mente. Um homem se aproximara dele, aparentando ser da área nobre, com uma provável intenção de ajudar.

- Olá rapaz. Eu não pude deixar de ouvir a discussão de vocês. Parece-me que pretendem sair da cidade.

- S-sim... Mas não foi nada demais, ela só está um pouco estressada, logo logo ela voltará. Desculpe se constrangemos o senhor enquanto passava.

- Não, tudo bem. Pelo contrário, me senti encorajado em ajuda-lo. Meu irmão é motorista da família mais rica existente nesta cidade, posso pedir à ele que o leve até seu destino. - disse o homem, prestativamente.

- Seria ótimo. Eu agradeço a ajuda. Bem... o problema é que estarei preocupado com ela durante todo o trajeto.

- Ela mesma parece ter ciência de sua independência. Com tanta segurança de si mesma, eu, no seu lugar, não ficaria preocupado. - disse o homem, deixando Hector um tanto desconfiado.

- Então está bem. Preciso ir agora mesmo.

- Ótimo, meu irmão está disponível neste horário. Vamos.

Durante a caminhada até a casa da tal família, o jovem caçador percebeu um detalhe interessantemente misterioso no homem. O mesmo usava um colar com uma peça folheada à ouro, cujos detalhes lembravam bastante aos símbolos vistos na capa do livro encontrado na mansão do colecionador. Disfarçando seu olhar investigativo, Hector prosseguiu a viagem sendo conduzido à Raizenbool, outra cidade pequena, onde a religião, a ignorância e o medo imperavam.

A cerca de duas semanas tal cidade vinha sofrendo ataques massivos de lobos bípedes. O alerta de um "fim do mundo" soou em toda a localidade. Ao chegar lá, Hector deparou-se com janelas sendo fechadas, portas sendo trancadas e ruas desertas e sujas. O medo da população era de que forasteiros pudessem ter ligações com as criaturas, ou talvez pudessem ser elas.

Próxima à igreja local, podia se ver uma estranha casa, que diferia das demais, em uma das ruas menos populosas da cidade, mas a que mais sofre com crimes e mortes. Hector fora guiado por um garoto que dizia conhecer a madame Alexia como ninguém. Parado em frente à casa, já no final da tarde, o caçador pôde finalmente pressentir que conseguiria o que precisava saber. No entanto, não conseguia esconder a preocupação incessante com Rosie.

Umas 3 batidas na porta e logo em seguida uma robusta e assustadora figura surgira na frente de Hector. O mesmo não se surpreendera muito, mas não teve a receptividade adequada.

- O que você quer? Quem é você? - perguntou o brutamontes de modo grosseiro.

- Por favor, não me veja de forma intolerante. Eu só vim ver a madame Alexia. Soube que ela é uma vidente extraordinária. Então, se puder me deixar falar com ela em particular, tenho certeza de que ela não sofrerá nenhum tipo de abuso. - disse Hector, convencendo-o.

- Está bem. Me parece que é um forasteiro. Olha, não sei se ela irá recebe-lo bem depois dos últimos acontecimentos, mas talvez ela dê uma chance à alguém aparentemente com boas intenções como você. O horário de consulta acabou de começar, você chegou em boa hora. Vai entrando. - disse o "gigante", dando passagem ao caçador.

A jovem e ruiva Alexia encontrava-se em sua sala, à espera de alguém que precise de ajuda em relação à sorte, penteando suas madeixas em um pequeno espelho de mão. Sem estar muito à vontade, Hector entrara na sala, sem sequer reparar na decoração excessiva. Fitou por uns segundos a bola de cristal posicionada no centro da mesa redonda. Logo seus olhos foram de encontro aos de Alexia, que de imediato lançou-lhe um sorriso.

- Madame, ele se chama Hector, e é um viajante vindo de...

- Tudo bem, tudo bem Ruffus, não seja tão afoito. Eu confesso que estou surpresa por ver uma figura masculina pedindo uma ajuda minha. Geralmente, apenas mulheres vêm aqui. - disse ela levantando-se. - Muito bem. Este é Ruffus, meu assistente. Ele é quem cuida da segurança do local.

Ruffus possuía uma família fora do país, mas decidiu se dedicar a trabalhar para Alexia - após a mesma ler o brilhante futuro dele - , prometendo um retorno financeiro à sua esposa e filhos, em troca da admiração que eles têm por ele. Sempre tratou de esconder sua careca em um pequeno chapéu. Após unir-se à ela, tratou de defende-la das acusações de charlatanismo, utilizando-se de sua grosseria inerente e porte físico arrojado.

- Mas o que traz um forasteiro tão interessante à uma cidade condenada como Raizenbool? Quer que eu leia seu futuro? - perguntou ela, mantendo um sorriso.

- Vim aqui para tratar de um outro assunto. E tenho quase certeza de que você pode me ajudar à me aprofundar na investigação.

- Investigação!? Quem você pensa que...

- Ruffus! Por favor, já chega de suas grosserias. Consigo ver nos olhos dele o quão desesperado ele está para falar comigo. Certamente ele quer respostas. Agora trate de voltar à outra sala. - ordenou ela.

- S-sim madame. Perdoe minha insolência. - disse Ruffus, retirando-se da sala de imediato, mas olhando com desconfiança para Hector.

A jovem vidente gesticulou pedindo para Hector sentar-se, e o mesmo o fez. Ajeitou a posição da bola de cristal e a toalha da mesa. Ambos suspiraram em simultâneo antes de iniciarem a conversa.

- Bem, primeiramente quero lhe fazer uma pergunta: É mesmo uma autêntica vidente?

- Sim. Descobri meu dom com apenas 8 anos de idade. Foi difícil no começo... mas minha força de vontade me ajudou a suportar as tormentas que a vida insistia em me trazer. Na maioria dos dias, quando saio para a rua, sou oprimida por vários incrédulos. - revelou Alexia, alterando sua expressão.

- Meu objetivo para com esta visita é sobre... é em relação à minha investigação que estou fazendo junto de minha amiga Rosie, ela não está comigo, como você pode ver. Nós brigamos e ela decidiu seguir seu próprio rumo. Mas vou direto ao ponto: O que sabe sobre os Red Wolfs?

Alexia sentiu a pergunta de Hector soar como uma força inexplicável que a fizesse abaixar lentamente a cabeça e engolir subitamente a saliva.

- E-eu poderia lhe dizer o que não quero saber. - disse Alexia, tremendo as mãos.

- Está bastante nervosa. Mesmo assim direi. Na noite de ontem, Rosie e eu estávamos prontos para investigar assassinatos ocorridos na periferia de uma cidadezinha, cujos relatos apontavam a presença de lobos bípedes. No entanto, havia uma outra coisa que deveríamos fazer antes disto: Visitar a casa de um tio de um falecido amigo meu, que também morrera por uma das criaturas, para conseguir respostas acerca de seu envolvimento com a Red Wolfs. Não como um membro, mas sim como um empregado de um deles. Ele possui uma coleção em seu escritório. Lá, nós encontramos evidências de que ele realmente faz parte do jogo atual da sociedade. No final das contas, fomos pegos em uma armadilha, onde os lobos invadiram a mansão e tivemos problemas para escapar. - contou Hector, de modo que deixasse Alexia atenta aos fatos.

- Nossa... E aonde quer chegar com isso tudo?

- No exato momento em que estávamos sob ataque, presumimos que tudo foi conduzido com a ajuda de um outro elemento pertinente à questão... e ao que parece estou bem na frente dele.

Alexia lançou um pequeno grito de surpresa, dando à Hector a deixa para ouvir o que precisava saber.

- Eu confesso... confesso que estive por trás de tudo isso, mas não foi à toa. Não foi por tentar ajudar a alimentar o plano maldito dele. Foi por medo.

- Medo de quê? Quem lhe deu a ordem? - perguntou Hector, ainda mais curioso.

- Robert Loub. Este é seu nome. Fui forçada por ele a usar meu dom para que eu visse onde estava a criança-sacrifício, ou sei lá o quê, era mais ou menos isso que ele chamava. Eu perguntei o que isto queria dizer, mas ele não quis me falar. Ele nunca me disse nada à respeito do plano geral dos Red Wolfs. Ele ameaçou matar minha família, que mora em outro país, caso eu recusasse. Na minha visão... eu vi você e uma garota, caminhando juntos em direção à uma luxuosa mansão. Logo ele soube que a mansão pertencia a um amigo que era seu mordomo há anos atrás. - revelou Alexia, apreensiva.

- Continue. O que houve em seguida e o que Robert fez? - perguntou Hector, ainda mais sedento por revelações.

- Foi a partir daí que ele pôs seu plano em prática. Utilizando técnicas de hipnose, aquele monstro fez com que um pequeno exército de lobos, frutos de experiências que ele conduziu durante vários anos, invadisse a mansão, para que a coleção daquele homem jamais pudesse ser roubada.

Hector levantou-se empolgado ao ver que tais revelações batiam exatamente com o que antes havia concluído juntamente com Rosie.

- É isso! Exatamente o que Rosie e eu concluímos quando escapamos de lá. Com a sua ajuda ele soube que estamos investigando e fugindo ao mesmo tempo. Mas por enquanto, creio que ele seja o único do clã que sabe. Agora conte-me sobre as experiências... qual a origem daquelas criaturas?

- Muito antes de me conhecer, Robert orquestrava sequestros, nos quais as vítimas seriam submetidas à experimentos horríveis em seu laboratório. Eu mesma testemunhei um deles... não gosto de lembrar, já tive pesadelos onde pude ver o futuro sombrio que se aproxima. Sendo assim, não posso afirmar nada do que está por vir, devo manter sigilo máximo. Caso contrário, ele é capaz de me matar se perceber que vocês deram um passo à frente e ele vai presumir que vocês receberam minha ajuda. - disse Alexia, desesperando-se aos poucos.

- Tudo bem, não precisa dizer nada em relação às suas visões. - disse Hector, acalmando-a. - Ele ainda conduz esses experimentos?

- Sim. Muitas pessoas inocentes ainda devem estar sendo mantidas em cativeiro, esperando serem usadas como cobaias. Após concluir o último passo, ele mantém os lobos, os quais ele chama de quimeras, em uma prisão. Mas há uma outra que está isolada das outras. A primeira cobaia. A mais feroz e perigosa de todas.

- Quimeras... ele inspira-se na figura mitológica grega para realizar essa atrocidade. Híbridos de humanos e lobos, isto é terrível. Esse homem precisa ser denunciado e preso pelo resto de sua vida, assim como todos os outros membros. - afirmou Hector, abismado com tamanha barbaridade descrita.

- Eu sinto muito, mas... concentrando-se em pegar apenas ele, eu receio que não será possível interceptar as ações dos outros contra vocês. Terão muitos desafios.

- No momento, pretendo invadir sorrateiramente o laboratório deste verme. - decidiu Hector, surpreendendo Alexia pela medida arriscada e desesperada.

- O quê!? Não pode ir até lá. Será descoberto e se unirá às experiências. - alertou a vidente.

- Por acaso você está tendo uma visão em relação à isso?

- Não. Afinal, minhas visões só surgem nos meus sonhos. Mas aviso isto por ser quase certo que ele o fará com você.

- Se possível, posso até resgatar as pessoas que estão lá trancafiadas. Preciso do endereço, não tenho muito tempo. - apressou-se Hector.

Sem muita escolha, Alexia tirou um papel embaixo da bola de cristal onde continha o endereço completo de onde ficava o laboratório.

- Aqui está. Se estiver disposto a ver a aberração que o espera, é por sua conta e risco. Não quero ter um sonho esta noite no qual eu possa vê-lo morrer. Onde quer que sua amiga Rosie esteja, eu desejo que ela fique bem.

- Tudo bem. Não há com o que se preocupar. Farei o que estiver ao meu alcance. - disse Hector, esbanjando determinação.

Na saída, a jovem vidente o aconselhou previamente sobre o perigo que a cidade representa.

- Ah, mais uma coisa: Tome cuidado. A esta hora da noite não é muito seguro andar por aí. Há relatos de aparições de quimeras também por aqui.

- Pode deixar.

O jovem caçador seguiu seu destino em direção ao laboratório, o qual se encontrava em uma densa floresta no fim da cidade. Uma missão perigosa de resgate e de coragem em enfrentar o desconhecido.

Em paralelo, à alguns quilômetros dali, um certo cientista adorador da divindade da noite eterna prosseguia com uma análise de um corpo humano anestesiado, deitado sobre uma mesa de ferro, tendo ao seu lado vários objetos cortantes.

Uma jaula com vários lobos desesperados e selvagens podia ser vista em um canto meio escuro da sala.


                                                                   CONTINUA... 

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