Capuz Vermelho #6: "Interrogatório na masmorra"


Passos acelerados deixando profundas pegadas no solo da floresta sombria eram os resultados da apressada corrida de Hector em direção ao laboratório. O tempo da caminhada, que logo transformou-se em uma desesperada correria, foi precisamente de 30 minutos. O jovem caçador, exausto e suando demasiadamente, encostou-se numa árvore para recuperar o fôlego. Não tardou para que avistasse à uma razoável distância o que parecia ser uma espécie de castelo. Retomou a pressa antes utilizada para aproximar-se do local.

Satisfeito com o que vira, Hector finalmente pôde respirar aliviado... para iniciar uma sorrateira investigação.

                                                                       ____//____

20 minutos antes.

Alexia aprontava-se para jantar, enquanto seu assistente, Ruffus, preparava o cardápio do dia. A espera fora interrompida por duas suaves batidas na porta.

A jovem vidente fora atender a visita e surpreendera-se com o que viu.

- Olá, em que posso aju... Não pode ser! Você!? - exclamou Alexia, deixando formar aos poucos um sorriso.

- Err... olá... me chamo Rosie. Você quem é Alexia? - perguntou a jovem, em tom preocupado.

- S-sim... Olha, acredite em mim, eu realmente estava esperando-a.

- Como assim me esperando? Enfim, não precisa responder. Antes de tudo, quero que me diga se um homem vestindo um sobretudo marrom passou por aqui. Ou não?

- Bem... na verdade, sim. - respondeu Alexia.

- Filho da mãe! - reclamou Rosie.

- Sei da situação atual entre vocês. Peço que entre, assim iremos conversar melhor. Vou contar tudo o que sei. Tudo o que revelei à ele. Mas eu devo avisa-la que ele saiu daqui disposto a arriscar a própria vida para acabar com os planos de quem realmente está por trás do problema que estão investigando.

- Tudo bem. Quero que me conte tudo em detalhes, sem me esconder nada. - demandou Rosie.

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CAPÍTULO 06: INTERROGATÓRIO NA MASMORRA 

Com a porta de entrada destrancada, Hector pôs-se a entrar, movimentando os rápidos olhos em direção à vários pontos do local. Um pequeno corredor, iluminado por velas em castiçais, que levava para um outro menor ainda, sendo este segundo o que o levara para a sala principal. Vislumbrou a tranca da porta fragilizada, o que o permitiu adentrar facilmente.

Andara cautelosamente, sem reproduzir um único som através dos lentos passos. Deixou a porta entreaberta, pois fecha-la significaria ser pego em pouco tempo pelo dono do pequeno castelo. Em uma rápida e astuta análise do que continha na tal sala (a qual era nomeada de laboratório 01), onde podia-se ver mesas com objetos pontiagudos, toalhas brancas manchadas de sangue espalhadas pelo chão, marcas de garras nas paredes, e potes com órgãos em conserva em uma estante. Além disso, uma fraca luz esverdeada tornava o lugar ainda mais macabro.

Um forte cheiro emergiu quando Hector chegou ao centro da sala, o fazendo tampar as narinas por certo tempo. Abismado com o que via, o caçador sentia-se encorajado em ir mais além. Em outras palavras, era necessariamente lógico ter que ir aos laboratórios seguintes.

- Que tipo de monstro ardiloso é você? - sussurrou para si mesmo, referindo-se ao responsável pelas experiências ali feitas.

Uma presença foi sentida pelo caçador, vinda por trás... a sensação de algo aproximando-se lentamente. Permaneceu imobilizado, tampando o nariz, pelo medo e inúmeros pensamentos vagavam pela sua mente. "Fui descoberto, será um deles?", "Será que fui pego em flagrante por algum assistente ou capanga que ele possua?", eram algumas das dúvidas desesperadoras que o faziam reprimir sua vontade de olhar para trás.

Não houve outra escolha quando sentiu a presença estar mais próxima. A última coisa que sentiu após olhar para trás foi um forte impacto de um objeto contra sua cabeça. Aparentemente um porrete.

O caçador sentiu sua consciência esvair-se lentamente ao cair no chão, vislumbrando com a visão turva uma figura masculina.

Enquanto isto, Rosie era otimamente recebida por Alexia em sua casa. A conversa entre ambas não seria longa o suficiente para ignorar a existência do perigo que Hector pode estar sofrendo, portanto, a pressa e a ansiedade se faziam irmãs no momento.

As duas sentaram-se à mesa após Alexia convidar sua visitante para jantar.

- Eu não sei como agradecê-la... nem sei se devo aceitar. - disse Rosie, introvertidamente.

- Ah, vamos, aceite. Meu assistente está preparando um ótimo cardápio para hoje.

- Tudo bem então. Vou esperar. Agora quero que me fale o que preciso saber. - apressou-se Rosie.

- Parece abatida. Posso sentir o quão desesperada está. O fato é que, neste momento, sinto um mau pressentimento. - alertou Alexia.

- Mau pressentimento!? Se refere ao Hector, não é mesmo? Diga-me o futuro sé é mesmo uma vidente. - pediu Rosie, ansiosamente.

- Eu lamento, Rosie. Minhas visões só surgem nos meus sonhos. Mesmo que me pedisse para dormir nesse momento, eu seria incapaz de prever o que pode acontecer à Hector, pois o desespero que também partilho com você bloquearia facilmente meu dom.

- Então... é impossível, no momento, saber o que vai ocorrer. Mas se é uma verdadeira vidente, então já teve visões sobre o futuro próximo. Isto significa que se você se unir à nós pode nos auxiliar na nossa investigação e impedir os planos da sociedade. - recomendou Rosie.

- Sim, eu já tive. No entanto, não pense que comigo por perto as coisas serão fáceis pra vocês. Não podem se beneficiar de meu dom para estarem à frente deles. Eu sinto muito.

- E por que não? Seria uma excelente vantagem sobre eles. Não é com a intenção de explora-la, mas...

- Rosie, não se trata de exploração. - disse Alexia, interrompendo-a. - Se trata de medo. A razão por eu ter me mudado para esta cidade foi exatamente para fugir das garras sangrentas do homem que ameaçou à mim e à minha família se caso eu ajudasse vocês. O homem que reside no lugar pra onde Hector foi minutos atrás.

- Por favor, me conte tudo do começo.

- Antes de tudo, Rosie, eu gostaria de dizer algo sobre a relação entre você e Hector. Em dados instantes, durante o tempo em que ele esteve aqui fazendo aquele interrogatório excessivo, pude sentir uma aura obscura nele. Não sei se é advindo do seu instinto de caçador ou se ele esconde algo... enfim, posso concluir que ele realmente confia em você... e a quer totalmente protegida. Ambos irão cometer erros terríveis, principalmente você. Portanto, o mantenha por perto, independente de brigas e desacordos. Eu sei a razão pela qual você usa esse capuz, já sonhei várias vezes com você, mas na maioria das visões seu rosto permanecia oculto. Só pude vê-lo com nitidez quando vi você e Hector aproximarem-se da mansão do tal colecionador. E foi a partir deste sonho que passei a ficar ainda mais insegura. - contou Alexia.

- Nós realmente brigamos hoje cedo. Foi estranho... Eu não me sentia eu mesma. Me senti dominada por um ódio sem explicação. Eu devo desculpas à ele. Se o que diz é verdade, então sou a pior companheira de viagem que existe.

- Oh, por favor, não seja tão dura consigo mesma. Tenho certeza que farão as pazes da melhor forma possível. Bem, devo cumprir meu dever de lhe contar a verdade sobre os lobos que andam espalhando o terror pelas cidades próximas.

- Sim, conte-me. Quero saber tudo o que revelou à Hector e o porque de ele ter se entregado ao perigo. - disse Rosie, disposta a saber a verdade.

No castelo localizado no centro de densa floresta, o homem conhecido como Robert Loub aprontava o confinamento de Hector na masmorra do local. O jovem caçador recobrava a consciência a partir de um forte cheiro de álcool induzido por seu algoz. Logo percebeu se encontrar amarrado em uma cadeira, vendo uma mesa de ferro à sua frente e aquele que o deteu pelas costas sorrindo de modo canalha.

- Que ótimo. Enfim, acordou. - disse Robert.

- Q-quem é você? Onde estou? - perguntou Hector, confuso e tonto.

- No lugar perfeito para pessoas como você. Não se espante se me reconhecer, já me viu antes.

Hector ajustava seu campo de visão aos poucos e logo viu a figura que estava na sua frente.

- Não pode ser. Você!? Por que?

- A ingenuidade de minhas presas é a minha vantagem. - disse o homem.

- Maldito. Que inocente idiota eu fui ao cair no seu jogo. Aquela história de irmão motorista... era tudo mentira, não é mesmo? - perguntou Hector, revoltado.

- Ele na verdade é meu filho. Aquele que dará continuidade à meu legado no vindouro culto da nova geração de seguidores de Abamanu. - disse Robert, calmamente.

- Eu havia desconfiado desde o início. Ele era novo demais para ser seu irmão. Além disso, o colar folheado à ouro no seu pescoço... o símbolo presente nele me lembrou algo.

- Sim, eu entendo. Um certo livro, cujas páginas contém mandamentos, capítulos que narram a vida de nosso deus... e, sobretudo, o dia de sua volta. - revelou o homem, apertando os punhos na mesa.

- Que não irá acontecer se eu e meus amigos impedirmos.

- Impedirem!? Não me faça rir, seu verme rastejante. Você ficará preso nesta masmorra por um longo, longo tempo.

- Escute-me... faremos do meu jeito. Eu até pediria para você me desamarrar, mas será inútil. O que proponho é o seguinte: Em troca de minha rendição, você me dirá tudo o que sabe, sem joguinhos e sem esconder nada. Se o fizer, peço também que reduza meu tempo nesta prisão por dois meses.

Robert, ao ouvir a proposta de seu prisioneiro, pôs-se a gargalhar freneticamente em tom de chacota.

- Eu nunca ri tanto em todos estes anos. Isso é ridículo. Como espera dar prosseguimento à sua investigação sabendo mais algumas verdades e estando preso aqui sem ajudar seus amigos?

- Eles saberão que estou aqui. Através de uma certa pessoa... que você bem conhece. - disse Hector, referindo-se à Alexia.

- Hum... então aquela vadia desgraçada contou pra você. Eu deveria ter matado-a antes que ela pudesse fugir. Onde ela está? Nesta cidade?

- Não revelo onde ela se encontra até você contar o que quero saber. - ponderou Hector.

- Seus amigos hein... a sua antiga turma de aspirantes à justiceiros... que patético. - disse Robert, abrindo uma garrafa de uísque.

- Por mais longe que estejam, eles virão. E sabem da existência de Alexia. Mas eu posso estar sendo confiante demais e realmente ficar preso nesta cela por dois longos meses.

- Dois meses. Fechado. Não espere que eu o alimente com muita frequência. A maior parte da comida vai direto para as minhas cobaias. E é exatamente sobre elas que quer saber, certo?

- Ouça atentamente minhas perguntas. Qualquer resposta que me soar não-verídica, refarei a pergunta e você responderá com total sinceridade. - pediu Hector.

- Faça como quiser... pseudo-caçador. - disse Robert, deixando a garrafa sobre a mesa, seguida de uma faca, ambas nas laterais.

- Não entendo. O que pretende com esta faca?

- Esta é a primeira pergunta? Já começou mal. É para garantir que você não tente nenhuma gracinha para escapar. Também posso usa-la para cortar as cordas quando estiver com vontade de ir ao banheiro, mas quando voltar à cela será algemado.

- Como quiser. Mas darei início ao interrogatório agora mesmo. Como conheceu Alexia? - perguntou Hector, de modo direto.

- Engraçado. Você é o meu prisioneiro, portanto eu deveria interroga-lo e não o inverso. Mas já que perguntou... Eu a conheci através de minha ex-esposa. Ela estava passando por dificuldades em relação à sua saúde e ficou temerosa quanto ao seu futuro. Em um anúncio no jornal no qual ela estava lendo, viu o nome de Alexia e decidi leva-la até ela. Tudo ocorreu rapidamente. Alexia e eu ficamos amigos, na época ela tinha uns 22 anos. Após a morte de minha esposa, passei a acreditar piamente no seu dom. - revelou Robert.

- E para auxiliar nos planos da sociedade, você viu a oportunidade valiosa à sua frente e a forçou a utilizar seu dom para encontrar Rosie, a criança-sacrifício. - deduziu Hector.

- Que rápido raciocínio este seu. Até parece que leu meus pensamentos. Se você, de fato, se encontrou com ela, para vir aqui de modo tão repentino, significa que ela está em Raizenbool. - especulou Robert.

- Que seja. Suas ameaças a fizeram ficar insegura, o que impossibilita-a de ter suas visões de modo eficaz. Agora vou um pouco mais além. Rosie, a filha do homem que vocês julgaram como herege, está ao meu lado nesta investigação. Visitamos o seu antigo mordomo e na sua coleção vimos objetos interessantes. A começar por um livro, que em sua capa possuía um símbolo. Eu reconheci as linhas do símbolo em um fragmento de uma peça reluzente que ele nos mostrou. Isto me levou a especular que tal peça é parte de um único artefato. O que é este objeto que se encontra dividido? - perguntou Hector, cerrando seus olhos e mantendo o foco, apesar da dor que sentia em sua cabeça.

- Serei direto, pois ainda preciso alimentar meus bichinhos de estimação. Se trata de um talismã. É a joia que nosso deus, Abamanu, nos deixou como herança neste mundo. Quem o encontrou primeiro? Não sei, provavelmente uma das primeiras gerações a iniciar a veneração. Nosso antigo mestre de cerimônia, dias após a morte de Richard Campbell, nos deu a ordem para dividir o talismã em cinco partes e escondendo em lugares onde ninguém pudesse encontrar. E a partir deste momento, nós também nos separamos. Juramos a nós mesmos que faríamos cumprir os desejos de nosso deus.

- Que tipo de desejos? Tem algo a ver com o que está escrito no livro? - perguntou Hector.

- Sim... prometemos à ele que conduziríamos os eventos que desencadeassem no seu retorno da forma mais fiel possível. O quão próximo ele está... isto nós sabemos desde aquele dia.

- O despertar de Abamanu. Diga-me, qual o dia exato do retorno? - perguntou o caçador, empolgando-se ansiosamente devido à profundidade das informações.

- Eu estaria cometendo uma traição à meus antigos colegas e ao meu deus revelando uma data importante à um reles prisioneiro como você.

- Eu vou pedir só mais uma vez: Fale-me quando Abamanu retorna. Quando passarem-se os dois meses, sairei daqui mantendo sigilo máximo, fugirei para outro país, deixando Rosie para trás. - disse Hector, tentando persuadi-lo.

- Hum... bom garoto. - disse Robert, sorrindo. - Sempre o vi dessa maneira, Hector. Um prodígio.

- Agora deu pra me dizer que me conhece!? Que patético. Não queira desviar do assunto.

- Tudo bem. Já que insiste e a sua decisão sobre o que fazer quando eu liberta-lo ter me soado convincente... Nosso deus... voltará em um dia no qual ocorrerá um eclipse lunar. Alexia previu isto... e eu a ordenei que não se desesperasse a ponto de contar à alguém interessado em estragar nossos planos... como vocês, por exemplo.

- Exatamente. Alexia me avisou sobre o perigo que ela correria se caso ela nos ajudasse. Você a mataria sem dó.

- E a entregaria como oferenda à Abamanu, juntamente com o sacrifício, a sua querida Rosie. Mas não se preocupe, a nova geração cuidará disso. - disse Robert, levantando-se deixando escapar algo relevante.

- Só preciso de uma última informação e eu deixo você ir embora: Como planejam fazer com que Abamanu retorne? Ou ele virá por vontade própria?

- Tem certeza que esta é a última? Está bem então, se diz. As quatro partes do talismã representam as quatro fases da lua. Mas há uma quinta parte que simboliza exatamente o efeito que o eclipse gera na lua após o seu ápice. A safira vermelha, o centro do talismã é a quinta parte. É a que melhor foi escondida. Não forçamos nossos deus a pisar neste mundo... ele virá porque lhe é necessário para trazer uma nova era à humanidade. Se isto será bom ou ruim... dependerá de sua vontade, única e soberana.

- À esta altura, no seu lugar, eu ficaria bastante preocupado com o que realmente está por vir. Se o propósito de Abamanu for benigno, somente acredito vendo. Se ocorrer uma verdadeira tragédia contrariando tudo o que esperavam dele... será tarde demais para pedir por clemência. - alertou Hector.

- Antes de ir, eu estranhei o porque de não ter perguntado sobre a parte do talismã coberta de ouro. Obviamente, você reparou nela. - disse Robert, já próximo de sair da cela.

- Não demorou para que eu especulasse que seria falsa depois de ter dito a verdade sobre o artefato.

- Esperto, muito esperto da sua parte. É uma pena que seja oposto à meus ideais... poderia ser um bom aliado com estas habilidades dedutivas. Será divertido vê-lo morfar nesta cela... e ao que parece seus amigos não virão lhe resgatar tão cedo. Uma pena. - disse Robert, zombando da condição atual de Hector.

Hector avistou uma presença motivadora por trás de Robert, o que trouxe de volta sua confiança.

- Uma pena!? Não para mim. - disse o jovem caçador, sorrindo.

- O quê!? - assustou-se Robert ao olhar para trás.

Uma voz forte e determinada ecoou pela cela, deixando o ex-membro dos Red Wolfs surpreso e um tanto intimidado.

- Parado aí! É bom que o liberte agora mesmo, se não quiser se machucar!

A ordem foi dada por Rosie, segurando uma arma apontada para Robert.


                                                                      CONTINUA... 

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