Um Segredo...


Nos dias em que minha irmã, de 8 anos de idade, ficou hospedada na minha casa no lago, nós costumávamos brincar no parquinho que ficava perto da floresta, todas as tardes. Geralmente ficávamos nos balanços. Aquelas tardes enevoadas e cinzas só deixava o clima entre nós ainda mais aprazível. Porém, em certo dia, durante mais uma de nossas divertidas tardes, ela decidiu parar apenas para tentar me dizer algo. Ela esboçava um sorriso típico de quem escondia algo. Logo ela se aproximou de mim, mais precisamente de meu ouvido.

- Eu tenho um amigo que mora embaixo da minha cama. - disse ela, sussurrando.

Obviamente, passei a julgar aquilo como sendo apenas imaginação fértil de criança. Ao meu ver, era bastante normal para a idade dela, possuir um amigo imaginário, para qualquer criança, aliás. Rindo do que ela havia me dito, me levantei do balanço e a levei de volta para casa. No caminho, conversamos um pouco sobre isso.

- Sabe, eu. quando criança, também possuía um amigo imaginário. - disse eu.

- Sério? Mas o meu é diferente. Olha, isto é um segredo. Não deve contar à ninguém. Me promete?

- Tudo bem, pode deixar. Eu prometo.

Algumas horas depois, recebi visitas de uns amigos meus da faculdade. Enquanto isso, minha irmã brincava no jardim com um gatinho que dei de presente à ela no seu aniversário. Os papos com meus amigos foram avançando até que comecei a falar dela. Acabei contando sobre o tal amigo imaginário dela. Todos eles riram bastante. Pra falar a verdade, todos nós estávamos praticamente bêbados, e me sinto arrependida por ter zombado dela enquanto aquilo acontecia.

Uma semana depois, soube da notícia de que meus amigos foram encontrados mortos em um acidente de carro. A polícia concluiu que dirigiam embriagados e isto foi a possível causa do capotamento.

Em uma noite, estranhamente tive sérias dificuldades para dormir. Me virava para um lado, depois pro outro... e nada de sono. Eu até achava que era por ainda estar abalada pela morte deles, mas o que vi em seguida provou-me o contrário.

Já eram cerca de duas da manhã. Começando a pegar no sono, a um passo de adormecer... ouvi um sussurro me dizendo: "Você é a próxima". Subitamente arregalei meus olhos. A voz parecia vir de baixo. Tentei ignorar aquilo e fiquei em uma posição típica de defuntos, achando que fosse cair no sono mais rápido.

Não sei porque tive que abrir meus olhos novamente. Pude ver dois longos braços e mãos negras com garras enormes surgindo nas laterais da cama, parecendo quererem me agarrar. Uma força estranha me imobilizou, nem mesmo pude expressar um grito. Em seguida, uma cabeça emergia próxima aos meus pés, com um rosto pálido. Aquele rosto continha dentes brilhantes e um olhar obscuro.

Em uma fração de segundos, pulei da cama e para minha sorte a janela estava aberta. Foi por um triz. Caí no jardim e corri ao entrar em pânico quase enlouquecedor. Perto do bosque vi minha irmã brincando com seu gato. Fui até ela.

- O que você tá fazendo a essa hora acordada?

- E por que está tão pálida? O que houve? - perguntou ela, surpresa com meu estado.

- Não foi nada demais... eu só levei um susto na cama... aquela coisa...

- Eu disse que não era pra contar! Você prometeu!

- Me desculpa! O que eu devo fazer para me redimir?

- Bem... se não consegue guardar este segredo, então é melhor não olhar debaixo da cama na próxima noite. Caso o contrário, irá se juntar aos seus amigos. 

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