Capuz Vermelho #12: "Pandemônio"


CAPÍTULO 12: PANDEMÔNIO 

Deitado no velho e rasgado colchão de sua cela, deixando a luz vermelha da lua sangrenta iluminar seu rosto através da pequena janela, Robert Loub refletira sobre como se daria seu destino, se caso fosse julgado e condenado por seus crimes, aliado ao fato da existência de seu dito "filho", cuja ameaça o assombrara naquele instante.

- Como aquilo foi acontecer? Alguém certamente foi responsável, não pode ter ocorrido por acaso. Alguém que possui conhecimentos obscuros... Bruxas? Não. Não houve mais notícias em relação àquele clã, foi desmontado há anos, graças à nós. Eu deveria ter orientado aquele caçador a achar o responsável por libertar aquele monstro. - pensava ele, apoiando sua cabeça nos seus braços, já que não havia travesseiro.

Uma crescente onda de vozes cortou seus pensamentos. Aparentemente um tumulto causado pelos outros detentos. Porém, era apenas a impressão inicial. O cientista levantara-se, escutando atentamente, a fim de encontrar a origem de tais vozes e gritos.

- Mas o que está havendo, afinal? - se perguntava ele, segurando as grades e olhando para o mal iluminado corredor à direita.

Um tiro fora disparado, ecoando por todos os corredores. Um grupo de policiais surgira para conduzir alguns detentos para salas, freneticamente destrancando várias celas e libertando um à um e os algemando rapidamente. A última cela era a de Loub, que mal aguentava-se de curiosidade.

- Por favor, diga-me o que está acontecendo. É alguma rebelião?

- Não faça perguntas estúpidas e venha comigo. O levarei à um dos depósitos. - disse o policial, logo algemando Loub e o carregando ao segurar pelo seu braço direito.

O cientista havia sido levado à uma sala, com apenas uma lâmpada em funcionamento, na qual eram armazenados antigos inquéritos, postos em caixas e guardados em estantes enferrujadas de aço. Olhou para todos os lados da tal sala, deixando as dúvidas crescerem mais e mais.

- Mas o que... Por favor, eu preciso saber... - interrompera sua fala, logo ao se deparar com o policial fechando e trancando a porta. - Mas que droga! - reclamou, bravo.

Mais tiros foram ouvidos, seguidos de gritos ainda mais intensos. Um sequência de barulhos fortes - como de algo sendo destroçado -, intercalando com rosnados e rugidos leves, deixou Loub congelado de apreensão. Movimentou suas pupilas para todos os pontos do teto, em completo de estado de nervosismo.

- Meu deus... Não pode ser...

Antes que pudesse completar sua frase, um instantâneo arrombamento da porta da sala o fez cair, tanto pelo impacto quanto pelo susto sofrido. Se arrastou para um canto da sala, tentando se esconder, mas àquela altura tal tentativa já lhe era inútil. Apenas pôde sentir o arrepio contínuo ao ver o macabro sorriso de Mollock, entrando na sala, acompanhado de uma quimera.

- Não! Saia daqui! Seu monstro! - gritava Loub, em desespero.

- Acalme-se meu pai. Sei que minha presença obviamente não o agrada, mas vim para cumprir minhas tarefas planejadas.

- Então... então é você. É você que está causando toda essa confusão. O que ainda quer de mim? - perguntou Loub, enfurecido.

- O mesmo que você, meu pai. O despertar. - disse Mollock, levantando sua mão esquerda e cerrando-a em seguida.

- Do que está falando? Seja mais específico! O que veio fazer aqui?

- Eu logo tive a certeza de que se tratava de uma boa artimanha sua para tentar escapar deste lugar, quando senti um de meus soldados vindo diretamente para cá. Fomos às suas instalações científicas e encontramos um lugar revirado e decadente e logo presumi sua condição atual. Meus sentidos se aprimoraram. Possuo olhos e ouvidos em todos os lugares nos quais posso alcançar. Considere-me como seu salvador agora. Vim para liberta-lo, meu pai. - disse Mollock, estendendo sua mão esquerda demonstrando querer ajudar.

- Pare de me chamar de pai! Quantas vezes eu vou ter que dizer que não sou seu pai, sua criatura maldita!? Eu tinha sim um plano para fugir daqui, mas não significava que eu precisava de seu auxílio! Portanto, a única coisa que peço é que saia daqui e me deixe em paz! Me deixe fora dos seus planos... fora da sua imunda existência. - disse Loub, humilhando-o.

Mollock suspirara em paciência, mesmo com o tom ríspido das palavras de seu "pai". Não alterou seu olhar, tampouco desistiu de seu plano.

- Lamento desaponta-lo. Mas deve encarar os fatos, e aqui estou eu para provar. Um pai deve possuir uma imagem, a qual assemelha-se totalmente à de seu filho. Não é assim que funciona com todas as criaturas vivas e detentoras de um sistema reprodutor? É isso que almejo para o senhor. Mas vamos para mais uma questão pertinente: O monstro. - disse Mollock, andando para uma parte da sala e levantando seu indicador esquerdo.

- Ah não... O que está pensando em fazer comigo? O que quer me dizer com tudo isso? - perguntou Loub, com um olhar tristonho, já não aguentando mais o fardo de sofrer aquela crescente pressão.

- Você sabe. Está dentro de você, apenas precisa entender. Nós dois somos monstros. Um preenche o vazio que há no outro. Nossos corações estão ligados, inegavelmente. Em suma: Somos parecidos. Eu só quero que desperte, meu pai. Acorde seu verdadeiro ser. - disse Mollock, pondo firmemente sua mão direita em seu peito.

- M-mas... Mas eu não sei do que está falando. Quero que fique bem claro: Eu não sou igual à você.

- Ah sim, você é, apenas não reconhece ainda. Ainda.

A quimera que o acompanhava se aproximou de Loub, rosnando e deixando gotejar uma saliva pegajosa.

- Muito bem. É uma pena que tenhamos que seguir com este método. Eu não queria que fosse assim. - disse Mollock, voltando ao ponto de onde esteve quando chegou à sala. - Vamos lá, meu nobre assecla. Desperte-o! - ordenou ele, apontando para Loub.

Avançando contra o homem, a quimera mostrava seus pontiagudos caninos, prontos para perfurar uma carne fresca. O cientista, sem nenhuma chance de defesa, apenas lançou um urro antes mesmo de sentir a dor das presas em seu pescoço ao encarar os profundos olhos da criatura. Durante o ato, sentiu até o âmago de seu ser uma modificação repentina, sendo entendida pelos seus olhos castanhos alterando para um amarelo dourado, ao mesmo tempo em que seu grito ecoava por toda aquela sala.

- E assim começa uma nova era. - afirmou Mollock, sorrindo e olhando tranquilamente para o ataque.

Enquanto isso, no templo dos Red Wolfs, um embate entre Rosie e Michael, com suas armas cortantes, parecia inevitável. Hector se viu na posição de apartador, priorizando a defesa de Rosie, mesmo que ela rejeitasse.

- Eu vou repetir: Se der mais um passo, juro que irei corta-lo até a morte. - ameaçou a jovem, mantendo seus olhos semi-cerrados, mas exalando um aspecto violento e incomum aos olhos do seu ex-companheiro e amigo, o que o fez pensar a respeito.

- Isto me é familiar. Rosie está exibindo uma agressividade que soa estranha. Diferente de nossa briga passada, ela agora parece demonstrar uma vontade de matar assustadora. O que quer que esteja havendo com ela, não duvido que algo interno além da compreensão possa estar controlando-a. - especulou o caçador.

Os dois recém-inimigos deram passos para lados opostos, lentamente. Como se um estivesse à espera do primeiro movimento do outro.

- É inútil. Nada do que você disser ou fizer contra mim irá abalar a minha crença. Nosso deus é real e não queremos ser punidos por desacatar um mandamento. - afirmou Michael, reforçando seu ponto de vista.

- Se de fato ele é real, talvez ele pouco ligue para o que vocês fazem. Eu não duvidaria se ele revelasse suas segundas intenções, assim como humanos que gostam de trair outros. - disse Rosie, deixando subtendida uma indireta à Hector.

- Ora, cale-se. Eu vou destroçar este lindo corpo por proferir esta blasfêmia. E terei o maior prazer em vê-lo saborear seus ossos... assim como um cachorro ou um lobo. - disse Michael, fazendo referência à principal marca de Abamanu.

Hector teve de intervir para cessar o embate psicológico, antes que se tornasse físico.

- Já chega!!!

Ambos o fitaram por vários segundos, julgando desnecessária a intromissão do mesmo.

- Não vai haver sacrifício nenhum! Eu não vou me submeter à um destino que não me pertence. - afirmou o caçador, com semblante sério, recompondo sua bravura.

- Isso não muda nada. - disse Rosie, ainda ressentida e insatisfeita.

- Rosie, por favor, me escute. Tente se acalmar. V-você pode não perceber, mas... há algo dentro de você que pode estar corrompendo sua essência. - disse Hector, se aproximando para ajudar.

- Fique longe, Hector. Fique longe de mim, a partir de hoje. Eu cansei de fugir dos meus medos. - neste exato momento, os olhos da jovem brilharam rapidamente em um tom vermelho claro - a cor de seu capuz -, deixando o caçador perplexo.

- Oh não...  Rosie, deixe-me ajuda-la, por favor...

- Não! - exclamou Rosie, afastando-se ainda mais, até se aproximar da enorme estátua de Abamanu. - Eu só queria estar ao lado de minha avó agora. Ela é uma das poucas pessoas confiáveis que me restam agora. - disse ela, olhando para ambos.

- Hum, acho que deve corta-la da lista. - disse Michael, em tom infame.

- O quê? Não está insinuando que... sabe algo sobre..

- Sim, sim, sim. Sua avó. Ela teve um relacionamento com meu pai no passado. Além de ter feito parte do clã de bruxas, cuja rixa conosco dura até hoje. Mas tudo devido à traição dela à meu pai. - revelou Michael, sem medo de como Rosie reagiria.

- Não... Eu não posso acreditar nesse absurdo... - disse Rosie, atônita e com os olhos marejados novamente.

- Não pode ser. Dessa nem eu mesmo sabia. - afirmou Hector, também surpreso.

- Pois é, meu velho amigo. Elas, por durante anos, tentaram demonstrar sua superioridade rebaixando nossa honra. Mas eles se mantiveram fortes até o fim. As bruxas recorriam a rituais para invocar criaturas vindas do mundo inferior, conhecido como Tártaro. Há uma infinidade de rituais com os quais elas convocavam seres macabros para nos atormentarem, física e mentalmente. Mas, claro, com a força transmitida de nosso deus para eles, conseguiram a vitória, ocasionando seu rápido declínio.

- Ainda que fosse uma bruxa impiedosa, ao menos ela confrontou a crença estúpida de vocês. - disse Rosie, defendendo sua avó.

- Sim, claro. Uma pena que os esforços dela e de suas companheiras tenham sido em vão. Mas como eu havia dito: corte-a da lista de pessoas confiáveis. Ela tem sorte de não sabermos a sua localização. Você já chegou a reparar que a cada ano que se passa, ela, estranhamente, aparenta estar mais jovem? - perguntou Michael, deixando Rosie mais nervosa.

- Na verdade, não. O que esse detalhe tem a ver com esse segredo?

- Absolutamente tudo. As bruxas são astutas por natureza, pois sabem como esconder seus anseios, jogos e planos daqueles que precisam de sua confiança. Elas, sobretudo, buscavam a vida eterna. Elas almejavam sobrepujar o poder da morte, queriam ser deusas, onipotentes e oniscientes. Para isso, existia o Soro da Juventude.

- Peraí... Soro? Agora lembro. Quando eu era mais nova, ela sempre dizia para eu nunca abrir ou mexer na última porta da dispensa, e lá eu avistava um vidro bem pequeno com um líquido amarelo. Agora tudo passa a fazer sentido. - disse Rosie, se apoiando na estátua com o braço direito.

- Corriam rumores de que Hades, o deus do mundo inferior, ofereceu à elas este privilégio. Mas receio que para isto elas lhe deram algo em troca. O que é? Não sei.

Michael aproximara-se de Rosie após guardar sua faca, tirando da manga direita de sua mortalha uma peça do talismã... a última que restava.

- Tome. Não tenho medo da punição. Mas devo admitir que adoraria vê-la morrer pelas minhas mãos. - disse ele, entregando a peça e sorrindo maliciosamente.

- Não entendo porque está fazendo isso... Mas não importa o que aconteça, vou tentar acabar com isso de uma vez por todas. - disse a jovem, recebendo o "presente".

Tirando o talismã ainda incompleto de seu bolso, Rosie pudera, finalmente, unir a quinta parte às outras, e assim o fez. O artefato brilhara reluzente após o feito.

- Rosie... Aproveite que Michael desistiu e fuja. Ele se deu conta da ameaça que você é... ou do poder que se esconde em você. - avisou Hector.

- Quantas vezes eu vou ter de dizer que nada do que você disser será suficiente para que eu o perdoe. - disse ela friamente, levantando seu braço direito, com a mão segurando firmemente o talismã. - Eu só quero que isso acabe!  Não importa como. Você, Hector, vai se arrepender amargamente pelo que me fez passar. Ao menos, se chegarmos a morrer aqui pelo que pode acontecer, nossos amigos irão sobreviver. - disse Rosie, dando um sorriso de modo assustador em seguida.

- Rosie! O que pensa que está fazendo? O que espera que aconteça? Posso ter traído sua confiança, mas o que eu disse enquanto estávamos na floresta foi verdadeiro. Está dominada pela raiva, controle-se, por favor. - pedia Hector, deixando claro em seus olhos seu desespero.

Ignorando as palavras do caçador, Rosie fixara seu olhar enervado ao ponto de encaixe do talismã, localizado no peitoral da armadura dourada da estátua. Virou seu rosto novamente para Hector, com o brilho vermelho em seus olhos novamente.

- É agora que tudo acaba.

Enquanto o confronto não-resolvido entre Rosie e os dois ex-amigos continuava, uma rebelião nas prisões da delegacia estava prestes a ser incitada. Saindo do local, Mollock carregara o corpo de Loub em seu ombro esquerdo, andando em direção às grades do portão, com seu soldado o acompanhando.

- Leve-o daqui. - disse ele, jogando o corpo de seu "pai" no chão.

- Sim, senhor. - obedeceu a quimera, logo colocando o corpo em suas costas.

A maior parte do exército se concentrava ainda dentro da delegacia, promovendo um caos nunca antes visto. Várias quimeras invadiam o armazenamento de armas - dentre elas, estavam metralhadoras e espingardas -, cada uma empunhando até duas. Os policiais tentavam, de qualquer modo, conter tanto a rebelião dos detentos que iam sendo libertados e escoltados pelas quimeras quanto o massacre provocado pelas mesmas. Apesar de aterrorizados, os prisioneiros entediam que aquilo lhes garantiria a liberdade sem que pudessem passar por um tribunal, enquanto corriam sendo "protegidos" pelas quimeras, que ocasionavam vários banhos de sangue a cada policial que entrasse em seus caminhos. Todos eram dilacerados antes que pudessem atirar, pintando as paredes com um vermelho vivo e quente.

Na sala do delegado, uma troca de tiros entre policiais e quimeras ocorria de modo desordenado. Havendo apenas seis deles contra apenas uma quimera carregando pesadas metralhadoras e atirando incessantemente, o desfecho para tal confronto era óbvio. Todos eles foram sumariamente derrubados pelas balas daquelas armas. Quando a munição acabara, a criatura largou as armas e fugiu para se unir novamente às outras, as quais ainda causavam terror nos diversos corredores, descarregando incontrolavelmente contra inúmeros policiais.

Para parar a ofensiva, alguns sobreviventes contactavam por telefone outras divisões policiais para agirem com reforços. No entanto, aparentava ser tarde demais. Corpos empilhados e ensaguentados jaziam na maior parte dos corredores, o que de imediato preocupou o delegado, que fora fortemente protegido sendo colocado numa sala secreta, trancada à sete chaves.

Pela porta da frente, uma multidão de detentos, com seus "uniformes" laranjas, saía esbanjando um forte sentimento de liberdade, junto às quimeras que os acompanhavam. Mollock, que estava de costas, virou-se e analisou bem a vasta quantidade de criminosos, pondo as mãos para trás.

Um deles se viu obrigado a falar, com dúvidas em mente. Logo, decidiu se aproximar um pouco.

- Ei, monstrengo! Você que é o nosso novo chefe agora? - perguntou um detento, um homem robusto e careca, com uma enorme cicatriz que ia do olho esquerdo à testa.

Mollock fez silêncio, passando a olhar para seus soldados. Assentiu com a cabeça, fazendo-os presumirem que deveriam largar as armas. As quimeras acataram a ordem, deixando o pesado armamento no chão.

- Ei! Você fala nossa língua, monstrão? - perguntou outro, com rispidez.

- A gente já tinha ouvido falar dessas coisas, mas nunca pensamos que iam fazer isso por nós. Devemos agradecer? - perguntou um detento com um cigarro no canto da boca, aparentemente mais velho que os demais.

Mollock sorrira em emoção ao ver tantos humanos reunidos. O que eles menos esperavam era que, na realidade, não passava de apenas mais um de seus planos.

- Não, eu é quem agradeço. Por terem se oferecido. - disse ele, olhando para cada um dos criminosos. - Comecem! - bradou, ditando a ordem final do dia.

Pegando todos de surpresa e desprevenidos - embora estivessem desconfiados dos intentos do "chefe" -, as quimeras avançaram, mostrando toda a ferocidade de suas presas para mordidas profundas.

Mollock deu as costas novamente mantendo suas mãos para trás em sinal de calma, e andando em direção ao portão principal, enquanto longos respingos de sangue lançavam-se contra o ar em meio aos gritos de dor reproduzidos pelos detentos. O primeiro passo para um reinado de respeito havia sido dado com êxito memorável.

Em Londres, uma forte sirene foi ouvida, fazendo o exército de quimeras, ainda persistente para avançar, enlouquecer devido ao som. Correram apressadamente em direção à origem do barulho, distanciando-se dos caçadores que ainda restavam no campo de batalha. Tratavam-se de carros do exército britânico chegando à rua do outro lado do bairro, com homens preparando metralhadoras.

Assim que avistaram as criaturas correndo de modo selvagem, era vencer ou morrer lutando.

- Abrir fogo!!! - ordenou em tom altíssimo o general no carro principal.

Repentinamente, os únicos sons que predominaram na zona foram estridentes tiros intermináveis. Em um beco repleto de poças d'água, um pouco próximo à periferia, chegava Alexia montando no belo e alvo cavalo que lhe fora gentilmente emprestado, deixando seus longos cabelos ruivos balançarem lindamente. A vidente mostrava um semblante de bravura e determinação, como nunca antes teve a chance de fazer. A oportunidade viria a ser aproveitada, quando uma quimera, deixando-se cair de um telhado, abordou-a para ataca-la.

Um susto pequeno e passageiro para ela não foi uma sensação de pavor duradoura. Logo retomou sua expressão séria quando descravou de um cadáver, caído em latas de lixo, uma espada.

Sem dar chance à quimera dar o seu bote, Alexia, reunindo o máximo de coragem em seu coração, enfiou a espada na garganta da mesma. Não se intimidou ao ver uma grande quantidade de sangue escorrer até o chão, e continuou sua cavalgada rumo ao ponto onde seus amigos estavam.

Correndo desesperadamente, o trio da caçadores parecia estar fugindo de um nova horda chegando, supostamente reforços. Puderam ver com clareza a figura de Alexia no cavalo se aproximando e acenando. Os três, surpresos, exclamaram o nome da vidente em uníssono.

- Alexia!? O que você faz aqui? Devia estar na cabana. - disse Adam, preocupado e respirando ofegantemente.

- Não há tempo para perguntas. Nós precisamos ir agora. Rosie está em perigo.

- O quê? Não me diga que... Teve uma visão? - perguntou Êmina, ficando apreensiva.

- Infelizmente sim. Me desculpem por tentar sair escondida, eu não pude evitar.

- Não, está bem. Não precisa se desculpar. Espera... ah, não. - disse Adam, olhando para o fim de uma das ruas, temendo algo.

Um novo exército surgira. Quimeras cada vez mais ensandecidas correndo em direção ao alimento.

- Droga, licantropos malditos. Até parece que se multiplicam. Pior que estou sem munição. - disse Lester. - O que a gente faz?

- Deixa comigo. - disse Êmina se agachando no chão para desenhar o círculo a fim de realizar alquimia.

A caçadora bateu as duas mãos e as pôs no chão fazendo o símbolo brilhar uma luz azul. Uma enorme muralha, resultante da transmutação, emergiu do solo para barrar o massivo ataque.

- Boa! Assim esses demônios não conseguirão chegar até o centro. Bom trabalho Êmina. - disse Adam, fazendo com o polegar esquerdo um sinal de joinha.

As quimeras persistiam tentando escalar a muralha, mas acabavam caindo umas em cima das outras em vãs tentativas.

- Vamos pessoal, depressa. O tempo está se esgotando. - apressava-se Alexia, denunciando a urgência da situação.

Um barulho de explosão assustara o quarteto. Deduziram o que já estava acontecendo na rua em que estavam.

- Se for o que estou pensando... O Exército está lá. - afirmou Lester, pondo sua mão no queixo.

- Pensei o mesmo. No fundo, eu já esperava que ia ocorrer uma intervenção militar. - disse Adam.

- Como na minha visão. - ressaltou Alexia.

- Bem, então é isso. Deixemos o Exército com o controle da situação. Eu sinto que algo... algo pode estar ocorrendo com Rosie. Temos que ir, rápido. - preocupou-se Êmina, rapidamente subindo no cavalo.

- Mas... será que cabem mais do que três? - perguntou Lester, em dúvida.

Adam tinha uma ideia em mente, o que, para ele, era inevitável.

- Façamos o seguinte: Eu vou com Êmina e Alexia. Você procura um lugar seguro ou, quem sabe, se une aos que sobreviveram. - propôs ele, pondo sua mão no ombro de Lester. - Tudo bem pra você?

- OK. Não se preocupem comigo. - disse Lester, levemente sorrindo. - O que quer que esteja acontecendo, devem impedir que algo pior ocorra.

Sendo assim, Alexia uniu-se à Adam e Êmina para evitarem a possível adversidade que Rosie seria vítima. Lester seguiu correndo para outra direção, completamente desarmado e, sobretudo, desprotegido.

No templo, Rosie apresentava uma faceta ameaçadora, fitando furiosamente Hector com seus olhos vermelhos, anteriormente de um azul tão vivo e doce. Michael recuava pouco à pouco, contendo seu riso quanto à postura da jovem.

- Chegou a hora. Eu simplesmente cansei de toda essa história. Dane-se o meu destino. - disse ela, de modo frio.

- Não diga isso Rosie. Ouça com atenção, por favor: Há algo lá fora. O verdadeiro inimigo está lá fora, fazendo o que bem quer enquanto estamos aqui discutindo inutilmente. Nós poderíamos unir forças com nossos amigos para enfrenta-lo! - disse Hector, insistindo em convence-la a recobrar a calma.

- Não importa mais. Você quebrou o que havia de mais valioso em mim. Nunca vou perdoa-lo. - afirmou Rosie, rangendo os dentes e deixando seus olhos marejarem devido à raiva. - Vou subir na estátua e pôr o talismã no seu devido lugar.

- Hahahahaha! Quanta estupidez! Não seja ridícula. O que espera que aconteça devolvendo a relíquia mais preciosa de nosso deus ao local no qual pertence? Pode ter se livrado do sacrifício, mas com a menção feita por Hector, vocês já possuem uma preocupação muito maior! - dizia Michael, rindo maleficamente, enquanto, discretamente, dava passos para trás.

- Cale-se, Michael. Viemos aqui apenas pela última peça. Se já desistiu, então vá embora de uma vez. Nós achamos que Abamanu retornaria quando puséssemos o talismã na estátua... é o que viemos fazer aqui, não foi Rosie? Então, é isso. Faça. Veremos o que acontece, por mais imprevisível que seja. - pediu Hector, sem medo.

A jovem ainda mantinha sua mão direita erguida com o talismã. Contudo, uma inesperada força de atração fez o artefato ir até seu local de encaixe - o peitoral da armadura -, deixando Rosie imediatamente assustada.

- O que foi isso? - perguntava-se a jovem, com as pupilas dilatadas ao encarar com temor o que acabou de acontecer.

Os olhos da estátua passaram a emitir uma luz branca, que gradativamente crescia, dando a assustadora impressão de estar "engolindo" a sala. Um pequeno tremor de terra seguido de um som agudo e ensurdecedor permitiu que os nervos se alterassem. Hector se afastava à medida que a luz tomava conta de seu campo de visão, não o fazendo mais enxergar Rosie.

- Mas o que está havendo? Rosie!! - chamava o caçador, tapando seus olhos devido à intensa claridade e recuando vários passos.

Michael correra sendo amedrontado por seu medo, saindo pela passagem secreta por onde havia surgido. Hector viu como única saída correr o mais longe que pudesse. Logo, saiu do templo mergulhando na floresta em passos acelerados e com um único pensamento: Rosie.

A forte luz chegou ao ponto de ultrapassar as janelas da igreja, clareando uma certa parte da floresta. Vários segundos passados, finalmente ela havia cessado por inteiro.

Cerca de uma hora e meia se passou. Alexia, Adam e Êmina puderam, finalmente, chegar ao local. Estacionando o cavalo amarrando-o em uma árvore, Alexia correra em seguida, indo na frente para entrar no templo.

Ao chegarem à sala principal, somente depararam-se com a estátua de Abamanu.

- Oh não, parece que chegamos tarde demais. M-mas... Aonde eles estão? Hector! Rosie! Estão aí? - chamava a vidente, olhando para todos os lados.

- Não tem mais ninguém além de nós, Alexia. Posso sentir. - disse Êmina, tentando acalma-la.

- Não há rastros de sangue, pegadas, nem nada. É como se talvez nem tivessem pisado por aqui. - comentou Adam, após fazer uma análise.

- O que faremos agora? - perguntou Alexia, tocando na perna da estátua, enquanto chorava de preocupação.

A jovem vidente pôde sentir uma estranha força percorrendo sua mente e corpo, sem desfazer do toque. Como se algo estivesse tentando se comunicar através dela.

- Alexia? Você está bem? - perguntou Êmina, se aproximando e inclinando seu rosto.

A vidente virara sua face para a caçadora, apresentando olhos totalmente brancos, assustando-a.

- O que... O que houve com você? Alexia!

- Não sou Alexia. Sou Abamanu. - dizia ela, com uma voz diferente e distorcida. - Estou usando a mente desta mortal como ponte para me comunicar com vocês. Serei direto no meu discurso. A jovem mortal chamada Rosie Campbell à mim pertence a partir de agora. Não quero oferendas ou sacrifícios. Eu a mandei para um lugar distante... muito distante. Ela será peça fundamental para meu retorno. Além disso, esvaziei sua mente de fatos recentes, e determinei que recobrará a memória somente no dia de minha vinda, após unir as cinco partes de meu talismã. Se tentarem impedir... sofrerão graves consequências.

Alexia de repente soltara sua mão da perna da estátua, soltando um leve grito após romper a conexão com a divindade.

- Alexia! - exclamaram ao mesmo tempo os caçadores.

- O que aconteceu comigo? - perguntou a vidente estarrecida, quase caindo.

Adam e Êmina se entreolharam apavorados, sem ao menos pensar numa forma de lidar com aquele novo problema.

Em uma longínqua terra, Rosie acordara lentamente em uma floresta silenciosa. As árvores possuíam folhagens um tanto peculiares, com um tom verde-azulado. Nenhum canto de pássaros, nem uma luz do sol visível, apenas um céu pálido e sem cor.

A jovem se levantou, com uma expressão que denotava estranheza. Tirou o capuz e ficou a observar ao seu redor, sem entender exatamente como veio parar ali. O despertar de dúvidas atormentadoras teve seu início.

Falhando em sua busca por respostas dentro de sua mente, Rosie ajoelhou-se e pôs as duas mãos na cabeça adquirindo um semblante de medo.

- Onde eu estou? Por que eu estou aqui? Quem sou eu?


                                                                     CONTINUA... 


                                                         FIM DA 1ª TEMPORADA

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