Monstro no final do livro (parte II)


Parte II

Eu custei a acreditar no que acabara de ver. Quase caí para trás devido ao susto. Pior mesmo foi ter, inevitavelmente, lido aquelas palavras escritas com sangue. O sangue da garota. Minha espinha gelou completamente. Somente pude sair daquela casa, abaixando a cabeça e mantendo uma certa discrição. As três páginas permaneceram comigo pelo resto daquele dia. Mas posso jurar que apenas fiquei observando as figuras nelas contidas, uma mais estranha que a outra, vale ressaltar. Prometi à mim mesmo averiguar os pertences da garota, investigar os lugares por onde ela passou e coletar o máximo de informações possíveis. Priorizar a resolução daquele mistério era o mínimo que eu podia fazer, àquela altura.

Finalmente o "Dia D" chegara. Fixei meus olhos na casa da amiga de minha mãe, logo ao sair para contemplar o radiante sol da manhã daquele sábado. Aparentemente não havia ninguém, e, claro, só aproveitei a brecha para me instalar novamente. Talvez naquele exato momento estava ocorrendo o enterro da garota, já que não encontrei nem minha mãe nem meu pai em casa. Deixei minha irmã sob os cuidados do meu avô. Com um grampo abri a porta da frente e fui entrando à passos lentos.

Atento ao que estava ao meu redor, fui seguindo de modo furtivo até o quarto da garota. Trancado. Ótimo, nada melhor do que colocar o grampo de volta à ação. Tudo ainda estava do jeito que vi no dia anterior. As palavras malditas ainda estavam lá. Tentei não vislumbrar nenhuma delas, enquanto eu revirava aquele quarto como um louco, atrás de uma pista. Encontrei um bilhete. Nele estava escrito: "De seu grande amigo John".

Percebi algo: No tal bilhete havia um grampo, e como eu tinha trazido as páginas comigo percebi as marcas do grampo nelas. As páginas haviam sido anexadas ao bilhete. Só me restou, então, procurar o tal do John. Me dirigi à escola onde ela estudava, me sentindo um Sherlock Holmes contemporâneo. Antes de entrar no colégio, liguei para meus pais, mas acabou dando sinal de ocupado. Claramente ainda estavam no cemitério dando o último adeus à garota.

Para minha sorte, o porteiro deixou-me entrar, pois dei uma desculpa de que queria de falar com o diretor sobre alguém que eu gostaria de indicar para ser um futuro aluno. Perambulando pelas dependências do colégio, consegui encontrar a sala do diretor. Perguntei se havia um aluno chamado John estudando lá. Ele me respondeu que sim e, como eu já esperava, perguntou-me o porque. Justifiquei que ele era um grande amigo meu e que eu era novo na cidade, só queria saber se aquele lugar era onde ele estudava.

Pronto. Consegui a confirmação de que ele era aluno de lá. Eu não sei se sou sortudo por natureza... mas acho que naquele dia bati o recorde. Tive acesso à uma foto do John, que peguei escondido ao entrar em uma sala de arquivos da escola. Logo quando saí, de súbito, esbarrei com ele.

- Idiota! Olha por onde anda! - reclamou ele, irritado.

Não deu outra. Tive que chamar sua atenção, de qualquer forma.

- Ei! Você é o John, certo?

- Sim... sou eu. Como sabe meu nome?

- Sabe a Ellen? A que mora à três quadras daqui?

- Sim, sei quem é. Somos grandes amigos, quase namorados, pra falar a verdade. Aconteceu alguma coisa com ela? Você conhece ela? - ele ficou desesperado fazendo as perguntas, já temendo a resposta.

- Olha... eu sinto em dizer... mas é que, infelizmente, ela tá morta.

Não tinha a menor ideia de como reagir diante de tanto desespero. Ele simplesmente enlouqueceu. Ajoelhou-se e ficou chorando intensamente. Era como se ele já esperava uma notícia ruim sobre ela Pedi que ele se acalmasse e escutasse o que eu tinha a dizer.

- John... ela foi encontrada morta dentro de casa, com vários e vários cortes profundos no corpo. A polícia ainda está atrás do assassino. Eu sinto muito.

- Sabe cara... a pior coisa que sinto nesse exato momento... é uma culpa muito grande. - com certeza tinha algo a ver com as páginas.

- Culpa? De quê, afinal? O que você tem a ver com isso?

- O livro... aquele maldito livro... eu havia dado de presente à ela umas três páginas de um livro bem antigo. Corriam rumores que era um livro amaldiçoado. Mas eu acabei não acreditando. Eu a pus em perigo. Um grupo da nossa classe a forçou a fazer uma aposta, que consistia em dois desafios: Ficar um mês morrendo de curiosidade, sem ler as palavras nele escritas. Segundo: Após esse período, fazer um ritual de bruxaria e sobreviver para contar a experiência. Se ela não conseguisse o primeiro desafio, seria obrigada a passar por um brincadeira de péssimo gosto. Eu fiquei torcendo por ela. Todos sabiam que eu tinha o livro, mas era mentira, eu só tinha três páginas. E mandei à ela, já que aceitou a aposta.

- Então é isso... - fiquei vários segundos com a mão no queixo e bastante pensativo em relação àquilo.

- Aquelas eram as últimas páginas do livro, segundo os rumores. Além disso, os que portavam o livro foram para sempre amaldiçoados, sendo escravizados por criaturas demoníacas.

Aquela informação soltada de imediato fez meu coração acelerar como nunca. Eu era o atual portador do livro. Se ele estivesse mais atento, saberia decifrar minha reação de pavor naquele instante.

- Olha John, você acabou de me favorecer com essa revelação. É que ando investigando o mistério desse livro. Se você souber de alguma outra coisa, pode me contatar nesse número. - dei meu número de celular à ele, para no caso de algo ser acrescentado.

- Tá, mas... como passou a saber da história desse livro? Até porque, ninguém que eu conheça sabe do que realmente esse livro se trata, nem mesmo eu sei.

- Eu também não sei. Mas só tô investigando por curiosidade mesmo. Melhor eu ir, meus pais foram ao enterro da Ellen, já devem ter voltado. Até mais John, não esquece do que te falei!

- Tudo bem... eu te ligo se eu descobrir algo.

Provavelmente ele já sabia a verdadeira causa da morte de Ellen. As dúvidas mais excruciantes àquela altura eram sobre as consequências que alguém sofria ao ler a história do livro. Era óbvio que não foi assassinato cometido por um ser humano comum. As palavras escritas com sangue nas paredes deixam isto mais óbvio. O que aconteceu foi Ellen ter lido o que estava nas três páginas e ter sido morta após o feito. A suposta maldição? Talvez.

À noite, fiquei horas vegetando em frente ao meu computador assistindo algumas séries, a fim de ocupar minha mente. Minha irmã foi convidada por uma tia minha a passar a noite na casa dela. Meu avô foi jogar pôquer com os amigos. E meus pais saíram para jantar. Sozinho em casa com um livro sinistro. Mal me focava nos episódios, sempre olhava para trás e me certificar de que eu não estava em perigo.

Por volta da meia-noite, recebi uma ligação. Era John. Quase derrubei o celular de tão ansioso, mas consegui atender.

- Alô?

- Ei cara, parece que eu me enganei sobre as páginas.

- Como assim? Espera... onde você tá? - me levantei da cadeira, à espera da resposta.

- Tô na biblioteca da escola. Entrei sem ser visto. Do jeito que a segurança fica reforçada nesse horário, acho que vou madrugar aqui. Olha cara... parece que aquelas não são as últimas páginas do livro.

- Como é? Acredita que a última ainda possa estar em algum lugar e intacta? - perguntei incrédulo, quase explodindo de desespero.

- Talvez, eu acho. Mas vai ser difícil achar. Também descobri uma cópia do livro aqui na biblioteca.

- Uma cópia!? Só pode estar brincando. E o que fez em seguida?

- Desculpa... mas eu não resisti... ah não... aaahh.... AAAAAAHHHH!!!

A ligação continuou após aquele grito... mas só o que ouvi foram grunhidos.

- Alô? John, você ainda tá aí? Quem está aí? 



CONTINUA... 

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