Monstro no final do livro (parte III)


Parte III

Eu permaneci estático por vários minutos, esperando um retorno ou qualquer outro sinal de vida por parte de John. Mas foi inútil gritar quantas vezes fosse necessário, nada podia ser ouvido além daqueles ruídos estranhos. Desliguei o celular e fiquei andando de um lado para o outro, sem a menor ideia do que fazer. Pobre Ellen. Vítima de um desafio diabólico motivado pela "lenda" de um livro igualmente diabólico. Ela não merecia aquilo. John possuía parte da culpa, por ter se envolvido na aposta e oferecido o elemento principal dela.

Depois de muito pensar, resolvi, então, esperar. Sim, foi a decisão mais viável no momento. Eu não podia entrar no colégio àquela hora, apesar de estar fortemente preocupado, como se a história da tal cópia e a morte de Ellen não fossem o bastante. Ah, se eu soubesse quem foram os idealizadores da aposta... eu não conseguia pensar em mais nada além daquele pesadelo todo. Sendo assim, esperei passar o domingo, até que na segunda eu iria até à escola para investigar.

Não foi nada fácil, claro. Meus pais disseram que eu estava esquisito o dia todo. Principalmente meu pai. Ele me olhava com certa desconfiança. provavelmente já pensando que meu aparente desespero tivesse algo a ver com o livro. Neste mesmo dia, quando eu estava cortando a grama durante a tarde, ele me chamou para, novamente, falar em particular - minha irmã e meu avô estavam presentes brincando com meu cachorro.

- E então, o que é pai? - cruzei meus braços, para demonstrar alguma segurança.

- O que há com você hoje? Parece inseguro, preocupado e desesperado.

- Não é nada demais. Não esquenta com isso. É só pressão antes da prova de amanhã. - justifiquei preguiçosamente, mas pareceu não funcionar.

- Aham, sei... - odeio quando ele faz aquela cara...

- O que foi? Tá pensando que é o quê, afinal?

- Você não me engana, mocinho. Tenho quase certeza de que tem a ver com o livro, qualquer um que soubesse dessa história notaria isto.

- Olha pai, posso explicar. Mas antes de mais nada, juro pra você que não cheguei a abrir aquele livro. - eu tinha que mentir, para que minha investigação não fosse arruinada.

- Ótimo. Explique-se. - pediu ele, cruzando os braços.

- Acontece que você me deixou impressionado com essa história toda, e agora acredito que estou em perigo... por estar portando algo supostamente amaldiçoado.

- É só por isso!? Desde que você não abra aquele livro, vai estar seguro onde quer que esteja. Mas o mais importante é: Não leia, em hipótese alguma, nenhuma palavra escrita nele. - disse ele, mantendo aquele dedo indicador apontado pra mim.

"Eu estou ferrado", pensei, enquanto minhas mãos gelavam instantaneamente. Ele continuou me olhando de um jeito estranho e depois deu as costas soltando um "Ótimo. Vejo que entendeu o aviso". Entendi perfeitamente. Congelei de medo naquele instante. Eu abri a droga daquele livro e acabei mentindo descaradamente para meu próprio pai. A fim de me acalmar, respirei fundo e contei até dez.

Durante todo o domingo a gaveta onde estava o livro manteve-se trancada, praticamente intocada. Eu nunca estive tão ansioso por uma segunda-feira como naquele dia. Chegado o dia esperado, acordei focado em minha missão. No relógio, mostrava 05:20. Todos ainda dormindo, exceto eu. Pulei a janela do meu quarto, depois de pôr uns travesseiros enrolados com o cobertor para enganar minha mãe, que certamente entraria para me acordar e dizer para não me atrasar para a prova do vestibular.

O céu mal estava claro o suficiente, mas segui com tranquilidade. Avistei o colégio e decidi entrar pelos fundos, torcendo para um daqueles corredores me levarem à biblioteca. Para minha sorte, não havia rastros da polícia em lugar nenhum. Finalmente encontrei a biblioteca principal da escola. Bastante espaçosa, diga-se de passagem. Logo quando cheguei ao centro dela, acabei escorregando em algo... e me assustei logo em seguida, ao perceber se tratar de um enorme rastro de sangue.

Eu estava bem, não tinha quebrado nenhum osso. Mas não podia dizer o mesmo de John. Nunca vi tanto sangue espalhado por um local assim, nem em filme. O rastro levava até a janela, que estava com seu vidro quebrado. Havia marcas de arranhões no chão e na parede. Vários livros rasgados e estantes derrubadas. Fiquei sem reação.

- John, seu idiota. - sussurrei pra mim mesmo.

Não demorou para eu encontrar a cópia do livro. Estava na página final. A mesma estava suja com uns pingos de sangue. Mas acabei notando uma diferença. Na cópia havia uma fechadura, no entanto, esta parecia ser falsa, pois o livro podia ser aberto sem inserir chave alguma.

Uma imitação barata ou uma cópia autêntica? Esse segundo exemplar começou a me intrigar mais que o original. Averiguando, não li uma só palavra do livro. Temendo que os portões do colégio estivessem prestes a serem abertos, vazei dali, carregando comigo o segundo livro. Mas o inesperado aconteceu: Acabei me perdendo em meio à tantos corredores.

Estava temeroso, pois a polícia poderia chegar ali mais rápido que uma bala, assim que alguém descobrisse o que ocorreu na biblioteca. Eu me agachei, com um medo incomum crescendo até o fundo de minha alma. Na parede na minha frente, me deparei com mais palavras escritas com sangue... droga, era uma narração do livro!

Indo contra tudo o que o meu pai havia alertado, acabei procurando freneticamente o trecho no segundo livro. Acabei encontrando as tais palavras. Acima do parágrafo inicial da página estava a figura de uma criatura, em forma de silhueta. Seus chifres, garras e a cauda me davam arrepios. Poderia haver uma razão muito convincente para que somente a silhueta da coisa fosse mostrada.

As luzes começaram a apresentar mau funcionamento, pouco tempo depois de eu parar de observar aquela figura. Um "pisca-pisca" quase interminável. Voltei com meu ritual da calma: Respirei fundo e contei até dez. Quando a maioria das luzes apagaram-se definitivamente, abandonei a contagem e comecei a rezar. Não que eu fosse muito religioso, mas, como efeito do desespero, foi a única coisa que me veio à mente para me sentir seguro.

Larguei o livro no chão, assim que comecei a escutar passos. Me levantei calmamente, sempre atento ao meu redor. Foi o mesmo que estar flertando com a morte. Aliás, o mesmo que estar em um filme de suspense. Entrando em outro corredor, que parecia levar ao refeitório, peguei um machado, daqueles que usam em casos de incêndio. Andei tão lentamente, que o tempo me soou praticamente parado.

Na entrada de ar, acima de mim, surgiu, de modo repentino, uma mão monstruosa e negra, tentando desesperadamente agarrar minha cabeça. Me abaixei rapidamente e arregalei os olhos ao ver aquela coisa medonha tentando me matar. Usando o machado, cortei aquela mão asquerosa. Um líquido negro espirrou na minha camisa, parecendo ser o sangue da criatura.

Aquela gosma preta e fedorenta continuava a escorrer do braço da criatura, e permaneci com a mesma expressão de horror enquanto eu me arrastava para trás. Corri para o refeitório, passando por mais corredores mal iluminados e sendo vítima de um medo crescente e bizarro. Tentei ligar para meu pai, mas havia lembrado que ele sempre deixa o celular desligado quando está dormindo. E, para piorar, ele não funcionava. Pus minhas mãos na cabeça, olhando para os lados e sem saber qual rumo tomar. De repente, ouvi o barulho da sirene de polícia se aproximando.

Foi quase meia hora de correria sem pensar em nada além de tentar escapar daquele lugar. Ao poder, finalmente, sair da escola por uma entrada não conhecida por mim, pude avistar várias viaturas policiais na frente do colégio. Já eram seis da manhã e, quando já estava mais próximo de casa, recebi uma mensagem de meu pai. Nela dizia: "Não sei onde está e porque saiu assim desse jeito, mas preciso que venha aqui, depressa! É entre nós. Entre escondido. Mande-me uma mensagem quando estiver em casa. "

Obviamente era algo em relação ao maldito livro. Ao chegar em casa, entrando escondido de minha mãe, fui até meu quarto primeiro, para arrumar algumas coisas. Mandei a seguinte mensagem para meu pai: "Pronto. Já estou em casa. Onde o senhor está?". Passados dez minutos esperando o feedback, vi a sua resposta: "Ótimo. Estou no porão. Precisamos esclarecer algumas coisas". Esclarecer, àquela altura, significava revelar fatos ainda ocultos. Já não tinha mais dúvidas acerca das suspeitas do meu pai. Ele estava me escondendo algo.

Desci para o porão. O encontrei ainda de pijama e tomando um café sentado numa cadeira, em meio aquelas pilhas de lixo (na minha opinião).

- Pai, o que faz aqui? Por que me chamou?

- Responda-me você primeiro, rapaz. Por que saiu sem avisar e naquela hora? Aonde esteve? - ele fez aquele semblante sério, cuja intenção é me impor medo.

Eu não tinha para onde correr. Era hora mais apropriada para contar a verdade.

- Tá bem, chega de esconder. Todo esse meu comportamento dito estranho por você e pela mamãe, essa minha saída que te preocupou e, principalmente, a morte de Ellen... tem tudo a ver com esse livro, pai. - mostrei a cópia para ele, sendo o mais honesto possível.

- Peraí, filho... você levou o livro?

- Eu tinha ido para o colégio onde Ellen estudava. Isto que está vendo na minha mão é uma cópia perfeita do livro. Soube dela através de um amigo de Ellen, que me ajudou a investigar, e só o conheci quando fui para lá na primeira vez. Só tive que ir lá hoje, pois... parece que ele havia lido todo o livro.

- Oh, meu deus... Agora tudo está mais claro. Ele morreu não foi?

- Infelizmente sim. E tenho uma confissão a fazer. - abaixei um pouco a cabeça, pois eu já esperava uma bela bronca.

- Ótimo... acho que só precisa me falar para me dar mais certeza, pois eu já temo o que seja. - ele me olhou preocupado, como se a hora de minha morte estivesse próxima.

- Eu abri o livro. Inclusive essa cópia.

Ele sentou-se novamente na cadeira, pondo as mãos na cabeça e assentindo negativamente com ela. Minhas mãos suaram em nervosismo ascendente.

- Filho... você falhou comigo. Mentiu pra mim. Mas ao invés de julga-lo e coloca-lo de castigo, vou fazer exatamente o contrário: Vou ajuda-lo. Não quero que meu primogênito seja a próxima vítima desse pesadelo.

- Talvez a situação esteja pior do que pensa... pois acredito que eu seja a próxima vítima. - revelei aquilo para desembocar na resposta que eu daria sobre o que achei na biblioteca.

- O que está querendo dizer? O que houve na escola? Você está suado e chegou muito pálido. - ele era um bom observador.

- Lá eu fui atacado por algo bizarro... bem depois de eu ler um trecho desse segundo livro.

- Deixe-me ver esse livro.

Coloquei na página exata em que li antes de ser atacado. Ele pareceu estar horrorizado, folheando aquelas páginas sem parar. Eu esperei que ele tivesse um bom plano para sairmos dessa.

- Sabe, filho... eu sei quem pode nos ajudar. Pode haver mais exemplares como este, mas o original está conosco. A pessoa que sei estar disposta a fazer qualquer coisa para salvar pessoas em relação à este livro é alguém que tive uma relação no passado. Ela sabe exatamente cada atributo, cada informação sobre essas criaturas.

- Ela quem, pai?

- Bem, filho, arrume suas coisas. Nós vamos falar com Morgana, a ocultista. Pois só temos menos de 24 horas, para acabarmos com tudo isso.  


CONTINUA... 

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