Frank - O Caçador #1: "Quando o dever chama (Parte 1)"


Confessionário:

Eu admiro minha própria coragem em começar esse primeiro vídeo... quero dizer, esse primeiro áudio, na verdade. Por que desse jeito? Ora, preservação de identidade é de grande importância. Explicando melhor: Estou cumprindo um legado. Meus ancestrais lidavam com coisas que os pesadelos dos desavisados são incapazes de reproduzir. E agora chegou a minha vez. Todos eles - meus tataravôs, meu bisavô, meu avô e meu pai - foram os cronistas mais implacáveis de eventos paranormais aqui em Danverous City. Uma cidade que amo, pra ser sincero. Mas, infelizmente, amaldiçoada por uma triste realidade... localizada bem abaixo de nós. É algo muito difundido como uma lenda pelos bisbilhoteiros da internet, aliás, algo extremamente confidencial. Estou quebrando uma regra de sigilo absoluto aqui, mas não me importo, como podem perceber, estou sob o nome de "TheHunter", neste canal chamado "Confessionário", onde passarei a relatar algumas experiências que vivencio nesse meu "trabalho de louco". Meus superiores não tem como descobrir meu canal, não sou tão estúpido a ponto de divulgar internet afora algo que pode me colocar em sérios problemas. Desse jeito não haverá legado. Não quero honrar a memória dos meus antepassados mofando numa cela. Portanto, aos que tiverem acessado meu canal, peço, encarecidamente, que não divulguem-o. Assim, ambos os lados não saem prejudicados. Soa irônico eu usar essa voz sintetizada? Monstruoso, não é? Obviamente, por segurança. 

Por que me sujeitei a isso? Bem, meus ancestrais relatavam tudo que ocorria nas caçadas deles em diários, e com detalhes. Resolvi dar uma modernizada, pois não tenho muita paciência pra escrever, minha mão cansa muito rápido. Fazendo jus ao nome do canal nesse vídeo de apresentação, vou revelar umas coisinhas: Tenho 39 anos, sei que comecei um pouco tarde, mas é melhor do que nunca ter saído do lugar, além disso meus ancestrais foram mortos por uma criatura misteriosa, a Besta de Vanderville, a cidade natal da minha família, e em breve pretendo iniciar uma caçada a esse monstro que sempre perseguiu a linhagem. É algo que mantenho segredo até mesmo da minha assistente, um anjo que foi colocado na minha vida para me apoiar e fazer companhia. Meio que fazemos uma relação de dependência. Sem ela e seu cérebro afiado e rápido eu jamais teria informações precisas e profundas sobre os casos que investigo, e sem mim ela nunca conseguiria fazer os relatórios das investigações para meu chefe, que, por sinal, é a terceira e última pessoa do Departamento que sabe das bizarrices que ocorrem na cidade e também me permite usar identidades falsas em missões exteriores. Mas todos que ajudei aqui em Davenrous City me conhecem pelo meu nome verdadeiro. Eu sempre revelo meu nome real para as vítimas, dando o número do telefone do escritório à elas para me ligarem quando algo sobrenatural acontecer em seus lares ou em qualquer outro lugar que estiverem ou com qualquer pessoa que conheçam. Daí meio que me torno o detetive paranormal preferido delas (principalmente das garotas, essa é a parte legal), mas não aceito ser guarda-costas de ninguém como se tal pessoa fosse prioridade, afinal tenho uma vida com responsabilidades e deveres, não tenho tempo para servir de escolta, sempre tento encontrar um modo mais rápido de resolver as coisas sem que ninguém saia ferido ou traumatizado. 

Sobre a "lenda" que mencionei antes e que desviei do assunto... bem, os geólogos não tem muita certeza do que causou aquilo, mas apontam como razão indiscutível para a causa dos terremotos que de vez em quando ocorrem aqui na cidade. Essa falha geológica existe há cerca de 132 anos. Olha, estou com 90% de certeza de que... ahn... ela é a principal razão pela cidade ser o que é hoje. Um lar para monstruosidades que sentem não possuírem lugar no mundo. Fantasmas de pessoas que tinham medo de morrer, monstros que querem constituir famílias em uma terra fértil como a nossa, são inúmeras as motivações. Sei que existe algo do outro lado da falha. Tem que haver. E a verdade, meu caro... ah, ela vai aparecer. 

Agora, só pra encerrar, sobre a Besta da Vanderville: Vou precisar da ajuda de vocês para conseguir acabar com ela. Existe uma lendária bala de prata, ela é a única que pode mata-la. Se alguém souber onde está localizada, algum museu, mausoléu, castelo, mansão, enfim... Entre em contato pelo número que está na descrição do vídeo, é o número de um dos meus celulares, caso alguém a encontre, precisará me informar o endereço completo e não precisa se identificar. Apenas por telefone, nada de me informar a localização nos comentários, por favor. Já fiz incontáveis pesquisas e nenhum resultado me satisfez até agora. É uma bala muito rara, talvez até única, no sentido de haver uma só. Algum parente meu, na época em que meu pai morreu, a escondeu em algum lugar junto com a arma. Há um link no campo da descrição que deixei, é onde está um desenho da bala feito num dos diários, tirei uma foto. Todos os meus ancestrais falharam miseravelmente em tentar matar esse monstro. Preciso da bala e da arma o quanto antes, pelo menos para treinar minha mira até o dia marcado, porque isso é importante, mas antes disso vou forjar réplicas da bala para o treinamento. Sim, marquei a data da caçada: Dia 22 de Setembro. A data em que meu pai morreu. 

Agradecerei a atenção de todos. Até o próximo Confessionário. Fui! 

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Nota do capítulo: Partes em itálico representam flashback ou menções específicas.

CAPÍTULO 01: QUANDO O DEVER CHAMA (PARTE 1)

A sala de reuniões encontrava-se trancada, ás escuras e com sua parte central iluminada por uma luz halogena acima de uma mesa metálica quadrada. Banhados pela luz e ao redor da mesa estava o trio que não mediria esforços para manter a verdadeira trama por trás das aparições estranhas testemunhadas pelos habitantes de Damverous City como sendo ultra-secreta.

Frank, Carrie e o diretor geral Ernest Duvemport discutiam os planos relacionados à uma missão conjunta com as forças armadas para investigarem a fenda no interior, escavando a terra e enviando os homens em direção à ruptura que cobria quase toda a extensão da cidade quando vista abaixo da superfície.

Impaciente, Frank dava constantes olhadas no relógio, meio que indisposto a debater sobre aquelas ideias arriscadas naquela hora da noite... quando poderia estar fazendo algo que lhe proporcionasse algum tipo de conforto... como, por exemplo, estraçalhar os miolos de algum vampiro ou coletando provas de assassinatos brutais... cometidos por seres estranhos e aterrorizantes que sempre eram descobertos pelo investigador praticando seus atos malignos.

Ernest, com seus joviais olhos azuis que contrastavam com seu pele branca e meio enrugada, chamou a atenção de um desatento Frank com certa inquietude.

- Frank!? Está me ouvindo? - disse ele, olhando-o fixamente.

- Ah... oi... eu.. err... - dizia Frank, sem saber como se portar, parecendo nervoso. - Me desculpe, diretor... mas é que... - deu de ombros, sentindo-se inútil. - É inviável nas circunstâncias atuais.

Carrie desviou os olhos para o diretor, como que ansiosamente esperando uma reação negativa.

- Parece que nos encontramos em um impasse. - disse ele, desanimando-se com um suspiro. - Contávamos com você, Frank, para, ao menos, conseguirmos uma chance de termos nossa iniciativa oficializada.

- Espera aí... Comigo? - perguntou Frank, apontando pra si mesmo, incrédulo. Rira. - Eu não tô entendendo, senhor... Ahn, quer dizer que minha decisão é essencial para confirmar a missão?

- Ora, mas é claro. - afirmou Ernest, novamente grosseiro.

- Odeio admitir... mas concordo. - disse Carrie, meio contida, olhando nervoso para o detetive.

Frank se virara para ela, com uma expressão confusa.

- Como é? Mas Carrie...

- Não, sem choro, estou com o diretor. - salientou ela, erguendo de leve as mãos como que demonstrando rendição. - Por mais que eu ache cedo demais.

- Então seja honesta com os fardados, poxa vida! - pediu Frank, parecendo exaltado. - Diga à eles que não concorda que a missão seja feita ainda neste ano. A guerra reduziu os recursos. - argumentou.

- Mas estão trabalhando em novas tecnologias - disse Ernest - para torna-la possível em um ritmo bem mais acelerado. Em outras palavras, estão sendo investidos bilhões nesse projeto.

- Umas provas físicas desse suposto fato bem aqui nessa mesa cairiam bem, diretor. - disse Frank, soando irônico com um sorriso forçado.

- Posso lhe dar o telefone do Major Madson, faço questão, só para que confirme... - olhou-o com mais incisão. - ... e pare de duvidar de seu chefe, que, por sinal, é o único do Departamento que está bem mais próximo da iniciativa, e, claro, sonha com o sucesso dela.

- Um telefonema que vai matar dois coelhos numa só paulada. - retrucou Frank, inclinando seu corpo e apoiando seu cotovelo esquerdo na mesa. - Eu nasci numa noite... mas não foi ontem a noite.

- O quê? O que está insinuando, Frank? - perguntou Ernest, já bastante enfezado.

- Ora, diretor... - disse Frank, dando risadinhas. - ... Já saquei sua estratégia.

- Estou curiosa. - disse Carrie, olhando para o parceiro. - Quer parar de enrolar?

- Senhorita Wood, irei blindar sua mente e mante-la protegida de qualquer eventual lavagem cerebral. - disse Ernest, alfinetando Frank com infâmia.

- O diretor quer me convencer de que meu posicionamento divergente vai causar prejuízos aos fardados. - afirmou Frank, sem deixar de olhar para Ernest. - E o telefonema para conseguir a prova seria uma deixa excelente para o Major me convencer a entrar no barco. - arqueou as sobrancelhas para o diretor.

- Ah, seu desgraçado... me pegou. - disse Ernest, virando o rosto, praguejando baixinho.

Frank dera uma risada de vitória, logo voltando-se para sua assistente.

- O que resta agora, hein? - perguntou ele, confiante.

Carrie rangia os dentes e mordia os lábios com nervosismo ao notar o estado de humor do diretor, desviando os olhos para outro lado sem querer saber até onde aquela discussão culminaria.

- E então, diretor? Consciente agora da minha verdadeira decisão? Só falta me chantagear com uma ameaça de demissão para me forçar a entrar, o que seria um golpe bem sujo. - falou, estreitando os olhos

O diretor foi virando o rosto insatisfeito lentamente para Frank, a expressão de decepção passando para repúdio completo.

- Tem razão. - afirmou ele, frio. - Mas... situações desesperadoras... exigem medidas desesperadas. - ele fez uma pausa dramática, fazendo suspense.

Frank mal pestanejava, deixando bem clara sua aflição com o iminente ultimato do chefe.

- Está demitido. - disparou Ernest, sem dó.

Carrie estremeceu, olhando para ambos rapidamente, mas preocupada com a reação de Frank.

O detetive paranormal petrificou-se em uma misto de descrença e medo, enquanto o diretor o encrava seriamente. Foi como o chão sob seus pés tivesse cedido, permitindo-lhe cair em um abismo escuro e sem fundo.

Sem forças para combater aquele terrível ultimato, o investigador se limitou a baixar um pouco a cabeça para mergulhar em uma profunda reflexão... sobre seu passado, especificamente sobre um dos primeiros casos que passou a investigar em seus primeiros meses no Departamento Policial de Danverous City.

                                                                                             ***

Três anos antes

Carrie entrara na sala particular de Frank esbanjando um olhar de urgência, trazendo alguns papéis. A assistente aproximava-se com seu bem abotoado vestido vermelho escarlate que ia até seus joelhos. A sala era confortavelmente bem organizada, com paredes marrom escuro "enfeitadas" por quadros, bandeiras de times esportistas, e com uma janela com persianas atrás da mesa de Frank. 

O detetive desviara os olhos do computador de monitor LED para Carrie jogando os papéis em sua mesa com bastante rapidez. 

- Cinco casos de mortes por estrangulamento em menos de dois dias no Drunx. - disse ela, parada em frente à mesa, cruzando os braços. - E já sei o que vai... 

- Testemunhas? 

- ... perguntar. - completou ela, tarde demais, meio acanhada. Olhou para Frank recompondo-se. - Na verdade, contou-se que, supostamente, as vítimas estavam sozinhas em suas casas. Precisaríamos esperar mais ocorrências do tipo para conseguir algum depoimento de uma testemunha ocular. Mas pelo visto, a coisa é bem esperta e sabe exatamente o momento de atacar. - opinou ela, olhando para os papéis. 

Frank pegou uma das folhas, analisando-as com minúcia. Era uma fotografia tirada por um dos peritos em algum caso dentre os cinco documentados. A imagem mostrava um homem jovem - aparentando ter uns 29 ou 31 anos - caído no chão de sua sala, a boca e os olhos abertos e com marcas de dedos em seu pescoço. 

- Obviamente, o que o estrangulou usou as duas mãos. - constatou Frank. Mostrou a foto à Carrie. - Olha aqui, veja. - apontou para o pescoço do cadáver. - Um estrangulador comum não deixaria marcas tão visíveis de suas mãos assim, concorda? - olhou para ela, arqueando as sobrancelhas ao aguardar a opinião da assistente. 

- Verdade... - disse Carrie, inclinando-se para ver mais perto, estreitando um pouco mais os olhos. Ela assentiu, concordando. - Percebo uma coloração meio escurecida... O mínimo que se poderia supor era que o assassino utilizava luvas. 

- Você disse "a coisa". - apontou Frank, dando de ombros. 

- E o que está pensando? - perguntou Carrie, franzindo o cenho. 

- Eu quem pergunto. - retrucou ele, sorrindo. - O que você está pensando? 

Carrie suspirou por alguns segundos, pensando no melhor modo de apresentar suas especulações. 

- Tenho uma pergunta melhor: O que você quer que eu diga? - disse ela, pegando o detetive de surpresa. 

Frank se levantou da cadeira, meio confuso. 

- Ahn... eu tenho a sensação de que... - fez uma pausa, coçando a cabeça, a testa franzida e o olhar de desconfiança para a assistente. - ... você acha que estou obrigando você a pensar o mesmo que eu. 

- Não, não, não é nada disso. Imagina... - disse ela, sorrindo nervosamente. - Tá super na cara que isso aqui é sobrenatural nu e cru... - falou, apontando com veemência para a foto na mesa. 

Frank ficara ainda mais intrigado, mas relevara. 

- Isso foi... meio forçado. - disparou ele, honesto. - Com todo o respeito, mas foi. 

- Olha, que tal esquecermos a divergência de opiniões - disse Carrie, recolhendo os papéis. - e nos concentrarmos no caso hein? 

- Mas eu nem disse minha teoria. - defendeu-se Frank. 

- Os peritos estão lá fora, tem o endereço de onde ocorreu o último ataque. - disse Carrie, a fala apressada, organizando a papelada e andando até a porta. - Bata um papo com os parentes da vítima e depois me diga o que conseguiu. 

Frank começara a estranhar o comportamento inseguro da parceira, logo seguindo-a ao sair por último. 

- Agiu como se fosse minha chefe. - reclamou Frank, em tom brincalhão, depois dando uma risadinha, seguindo a assistente pelo corredor. 

- E se eu fosse? - perguntou ela, sorrindo de canto de boca para si mesma enquanto caminhava em passos apressados. 

- Concentração no caso. Você mesma disse. - desconversou Frank. 

- Por que está me seguindo? - perguntou ela, o tom nervoso. 

- Não estou perseguindo você. - afirmou Frank, olhando-a confuso. - Me diz uma coisa: Como diabos os peritos foram autorizados a se encontrar com o diretor pessoalmente sobre esse caso? - perguntou ele, alcançando-a, quase ficando lado à lado. 

- A Justiça Geral autorizou o Departamento a ficar inteiramente encarregado de investigar os estrangulamentos em série. - disse Carrie. - A perícia concordou em se juntar a nós e ficar por dentro de qualquer caso relacionado. 

- Ótimo. Vou dar uma olhada na casa, depois vou interrogar os parentes. - determinou Frank, passando a caminhar mais rápido, deixando uma nervosa Carrie para trás. 

                                                                                         ***

Danverous City - Drunx. 

Frank esquadrinhava todo e qualquer canto da sala de estar com sua lupa a fim de detectar qualquer sinal ou indício que comprovasse a presença de alguém humano na casa além da vítima. As paredes eram de um azul meio anil, decoradas com tapeçarias elegantes e europeias, além dos móveis bem posicionados e de cor branca. 

- Bom gosto pra decoração. - opinou Frank, dizendo baixinho ao passar com a lupa no olho esquerdo, investigando uma estante de madeira vermelha com portas envidraçadas. - Nenhuma digital aqui também... - passou para um vaso com uma planta exótica em um canto mais discreto. - Sem sinal de sangue. 

- Olá? - disse uma voz feminina entrando no cômodo. Frank se virou rápido, guardando a lupa no bolso de seu casaco bege, sorrindo levemente para a figura que estava ali. 

Era uma mulher caucasiana de cabelos dourados soltos e olhos castanhos, vestindo uma camisa branca com mangas, um moletom na cintura e calças jeans. Ela acenou com uma mão para Frank, sorrindo com timidez. 

- E aí? Você deve ser o detetive... 

- Sim, eu mesmo. - disse ele, aproximando-se dela. - Prazer, meu nome é Frank. 

Ambos deram um aperto de mãos amigável. 

- Susan. - disse ela, apresentando-se. - O prazer é todo meu. - falou, com um sorriso leve.

- Bem, primeiramente eu sinto muito pelo seu sobrinho. - disse Frank, prestando suas condolências de modo sério. - Aliás, eu tenho visto algumas fotos no quarto, ele não aparentava ser do tipo de cara que costumava fazer inimigos facilmente. 

- As aparências podem enganar, detetive. - afirmou Susan, parecendo tristemente decepcionada, olhando para uma cômoda onde ficam porta-retratos com vasos de plantas. - Até onde eu sabia, Ralph mal frequentava o colégio depois que passou a andar com certas pessoas. 

- Que nível de perigo você acha que estas pessoas... representavam? - perguntou Frank, compenetrado. 

- Olha... Ralph e eu não costumávamos ser muito íntimos, se é que me entende. Nos falávamos pouco demais, principalmente depois que ele começou a frequentar clubes de gente doida, depois disso ele ficou cada vez mais distante da família. Ele virou proprietário da casa por tempo indeterminado depois que minha irmã e meu cunhado foram passar alguns meses fora do país. - informou ela, a expressão bastante séria. 

- Parece saber muito pra alguém tão distante assim. - apontou Frank, tirando os olhos do bloco de anotações e fitando-a. - Não me interprete mal, por favor. 

- De modo algum. - disse Susan, dando de ombros, sorrindo de leve. - Eu só estou tentando ser honesta. Na medida do possível. 

Frank a olhara mais estreitamente. Um certo envolvimento daquela mulher parecia estar se elucidando. 

- Por que diz isso? - perguntou ele, intrigado. - Por acaso, está associada com essa trama de alguma forma? 

- O que insinua? - perguntou Susan, passando a olha-lo desconfiada. - Que eu esteja ligada ao assassinato do Ralph? Claro que não. 

- Não foi isso que eu quis dizer. Só estranhei você ter mencionado "clube de gente doida". Me pareceu que você, de algum modo, conseguiu essa informação. 

- Bem, eu consegui sim, mas... - disse ela, meio inquieta, olhando para o chão pensativa e as mãos na cintura. Seu semblante parecia indicar o limiar de um choro. - Eu tentei... tantas vezes, tantas vezes ir até ele e perguntar o que tanto fazia lá, qual era o objetivo... 

- Você o seguia? - perguntou Frank, incisivo. 

- Sim. - respondeu Susan, enxugando as lágrimas. - Uma vez por semana. 

- E quando você parou com as perseguições? 

- Depois que eu presenciei uma briga entre ele e outro cara maior do que ele, Ralph apanhou bastante naquela noite. - contou Susan, abalada. 

- O local possui um nome? - perguntou Frank. 

- Não tinha placa, é do tipo bem discreto mesmo. - afirmou Susan, assentindo para o detetive. - Fica à oito quarteirões daqui. 

- Depois que você parou de segui-lo, não se comunicou mais com ele? Por exemplo, via e-mail ou redes sociais? 

- Sim, mas ele nunca respondia minhas mensagens. - disse Susan, olhando de relance para o corredor que levava para os quartos, apontando com o indicador direito. - Se quiser dar uma checada no meu laptop, fica à vontade, deixei ele no quarto do Ralph. 

- Pode deixar. Obrigado. - agradeceu Frank, assentindo positiva e educadamente. - Ahn... só mais uma coisa: Você vai ficar por enquanto que os pais do Ralph não voltam? 

- Sim, eu vou. - afirmou Susan, assentindo com as mãos na cintura. - Por que?

- Tenho uma ideia caso algum deles queira voltar para ameaça-la. - disse Frank, quase aos sussurros. - Sabe como é né? O criminoso geralmente retorna ao local do crime. 

- Ah-hã, sei. - concordou Susan, ouvindo-o atentamente. - O que o senhor tem em mente? 

- Gostaria de coletar provas substanciais de um possível segundo evento. - afirmou Frank, olhando para vários pontos da sala, de cima à baixo. - Instalando câmeras de segurança em todos os cômodos da casa. 

- Era exatamente isso que eu avisava ao Ralph nos e-mails não-lidos. - disse Susan, empolgando-se com a ideia de Frank. - Mas acho muito difícil que ele volte somente para me matar, ele já cumpriu o serviço sujo. 

- Mas a mesma pessoa que surrou o Ralph pode ter sido a mesma que o matou. Não acha? - disse Frank, entrosando-se cada vez mais com a moça. 

- É bem possível... - disse Susan, pondo um dedo no queixo, pensativa.  - O cara era um armário, provavelmente não usou muita da sua força para esmagar o pescoço do Ralph. 

- Ele pode ser um ladrão e talvez tenha ficado frustrado por ter desperdiçado a chance que tinha de roubar algumas coisas da casa depois do assassinato. - especulou Frank, transmitindo o máximo de confiança possível para a moça. 

- É uma boa teoria. - concordou Susan. - Eu tinha quase certeza que Ralph tinha um débito com aqueles caras. 

- E com um estrangulador à solta por aí, nada garante que ele não possa voltar aqui para reaver a chance perdida. - disse Frank, guardando o bloco de notas no casaco. 

- É verdade, fiquei sabendo dos outros casos. - disse Susan, parecendo mais abalada pelas outras famílias que perderam. - Deve estar se perguntando o que as vítimas tinham em comum para serem mortas em tão pouco tempo. 

- Acertou em cheio. - falou Frank, suspirando com tranquilidade.

- Eu não conhecia os amigos do Ralph, fiquei sabendo das outras mortes pelos meus colegas de trabalho. - disse Susan, firme. - Não se fala em outra coisa em todo o bairro. 

- Pretendo me concentrar somente aqui, pois foi o último lugar a ter uma morte da série de assassinatos nas últimas 24 horas. Por isso espero que não haja nenhuma ocorrência nos próximos dias. - disse Frank, andando devagar pela sala, analisando os pontos onde instalar as câmeras. - Vou mandar uma equipe - sacou o celular - vir até aqui pra providenciar o material. - olhou de modo bastante sério para Susan - Depois verifico seu laptop. - tirou do bolso do casaco um cartão de visita. - Ah, e se caso as câmeras acionarem o alarme, é só me ligar imediatamente. - entregou o cartão à Susan. 

- As câmeras vão disparar um alarme? - perguntou ela, recebendo o pequeno retângulo branco com o número do telefone do detetive. 

- Assim que detectarem a presença do invasor. - garantiu Frank. - Não hesite em ligar. 

- Nossa, vou precisar madrugar pelo visto. - disse Susan, sentindo-se meio exausta. - Mas vai ser por uma boa causa. Obrigada. - agradeceu com sinceridade na face. 

                                                                                            ***

Departamento Policial de Danverous City. 

Frank bufava em insistência diante do superintendente da corporação, um homem troncudo, de face robusta, vestindo um terno preto com gravata vermelha e camisa branca por baixo, e cabelo meio calvo. A sala emanava um clima de puro ardor tamanha era a sensação áspera que o chefe dispersava contra o detetive. 

- Por favor, senhor, é necessário, antes que fique fora de controle. - disse Frank, tentando convence-lo, parado diante da mesa do sisudo homem de meia idade. 

- Você e sua metodologia estão fora de controle. - atacou o superintendente, inclinando-se para Frank com um olhar de reprovação. - Cinco lares sob vigilância de cinco equipes me parece um desperdício do qual eu não estou disposto a arriscar. 

- Vidas estão em jogo, superintendente. - insistiu Frank, elevando o tom, tornando-se mais aborrecido. 

- E as casas, até onde eu sei, atualmente desocupadas. - informou ele, a expressão dura feito pedra. 

- A garota com quem eu conversei há pouco tempo, Susan - disse Frank, chegando mais perto -, reduziu sua conexão com a vítima depois que ela passou a perseguir o sobrinho e descobrir que ele frequentava uma casa noturna. No início, ela foi meio que suspeita pra mim, mas depois pensei: "Bem, ela está sendo claramente sincera, então vou relevar.". O criminoso deve seguir um padrão. 

- Que seria? - perguntou o superintendente, afixando sua atenção em Frank. 

- Atacar suas vítimas quando elas estão sozinhas em casa. - apontou ele, com tranquilidade. 

- Previsível. - disse o chefe, revirando os olhos em tédio. 

- Precisamos resolver isso rápido, por isso até agora não tivemos maiores informações sobre as outras famílias. E é por essa razão que deve haver uma operação conjunta. - disse Frank, pondo as duas mãos na mesa do seu chefe geral. 

O superintendente pousou sua caneca com café fumaçante desistindo de dar um gole para encarar o detetive como se ele fosse um desafiador petulante. 

- Esqueça as casas, Frank. - disse ele, categórico. - Sugiro que se concentre unicamente na tal casa noturna frequentada pela última vítima. E torcer para que outro caso não nos seja reportado nas próximas 48 horas. - fez uma pausa, tocando novamente na caneca, levando-a à boca e tomando um pouco da bebida quente. - Não vou tolerar que me faça sentir culpa por estar jogando a responsabilidade em suas costas. 

- Ao menos autorize a instalação das câmeras. - pediu Frank, encarecidamente. 

- Ás vezes você me dá a impressão de que vê seu trabalho como um fardo. - retrucou o chefe, ignorando o pedido. 

- Não vamos falar de mim. - ditou Frank, severo. - Susan decidiu ficar cuidando da casa até que os pais do Ralph cheguem da viagem. Ela foi testemunha de uma agressão contra ele na última noite que o seguiu. O mesmo cara, o mesmo agressor, pode ser o nosso principal suspeito. 

- Mas não explica a relação com as outras quatro vítimas. - disse o superintendente, desconvencido. 

- Exatamente. - soltou Frank, estalando os dedos, sorrindo de modo forçado. - Será que é tão difícil assim para o senhor ver que esse caso exige a atenção de mais pessoas além de mim? 

- E o que acha que estou fazendo? - perguntou o chefe, estreitando os olhos com certa raiva na face. - Insinua que estou sendo... negligente? 

O detetive estremecera de nervosismo, tentando achar a forma correta de se explicar. 

- Não, não, não. - disse ele, quase gaguejando. - Claro que não senhor. Só estou tentando fazê-lo entender a verdadeira gravidade da situação. 

- Ah-ha! - disparou o superintendente, levantando-se da cadeira e apontando para Frank. - Finalmente eu vi a sua patética pose desafiadora se desfazer. O que me diz, Frank? 

- Um estrangulador está a solta na cidade! - insistiu Frank, exaltando-se. - Sei lá, o senhor não parece tão preocupado. 

- E eu deveria estar? - perguntou ele, surpreendendo o detetive que reagiu mal. - Não me veja como um insensível que não preza pela vida humana. Não me preocupo com sua necessidade de fazer este trabalho em equipe. A casa noturna é o criadouro de criminosos. Devem haver vários estranguladores contratados por alguém de maior influência. 

- As fotos das vítimas dão a entender que é o mesmo cara. - disse Frank, lembrando-se de que deveria ter trazido as provas para o superintendente analisar. - Há marcas de dedos e os tamanhos são exatamente iguais. Ele foi muito preciso na hora de aplicar o golpe... 

- E onde estão estas fotos? - quis saber o chefe, exigente. 

- Ahn... acho que esqueci de trazê-las. - disse ele, dando de ombros. - Bem, mas enfim: O que temos de concreto é a existência de um só estrangulador atuando em bairros próximos uns dos outros. Só preciso ir até a casa noturna e investigar sob uma ordem judicial... 

- Conheço você, Frank. - disse o superintendente, sorrindo de canto de boca. - É mais inventivo que isso. 

- O que quer dizer, senhor? - perguntou ele, franzindo a testa. 

- Um bom disfarce seria o mínimo para se investigar com menos pressão. - aconselhou ele, olhando-o dos pés à cabeça. - Neste momento estou imaginando você como um gângster metido à intocável, e com quilos e quilos de drogas nos bolsos do casaco de couro preto. 

- O quê? - indagou Frank, sem saber como se expressar.

- Foi só uma sugestão baseada em uma especulação. - disse o chefe, sorrindo de modo sacana. 

- Não vou me fantasiar. - disse Frank, andando até a porta para sair. - Me avise, por favor, quando finalmente autorizar a instalação do material. 

- Continue sonhando, Frank. - retrucou o chefe com tom rigoroso, sentando-se novamente em sua cadeira. - Nada de câmeras até termos provas concretas da sua investigação. Ouviu bem?

Frank fechara a porta com força, demonstrando toda a impaciência que alimentou naquela sala. 

                                                                                            ***

Ao telefone, Carrie falava com Frank que estava caminhando em uma praça da bairro Drunx no início da tarde daquele dia. 

- O clube só abre ás 19 horas, não me deixaram entrar. Acredita nisso? - disse o detetive, com o celular no ouvido direito enquanto andava. - Mesmo que me deixassem entrar, talvez alguns lá dentro armassem uma emboscada já que eu fui sozinho. 

- Eu andei pesquisando enquanto você aproveitava seu dia ruim. - disse Carrie com os óculos de grau médio, sarcástica, olhando para a tela do seu computador.   

- Valeu pela informação. - devolveu Frank. - Manda ver. O que encontrou? 

- Nada. - disse Carrie, lacônica. 

Uma súbita estranheza acometeu-se sobre Frank, fazendo-o parar a caminhada. 

- Nada? - indagou, levantando uma sobrancelha. 

- Isso mesmo. - respondeu ela. - Se as vítimas fossem suicidas, até ajudaria, mas... não há nada de sobrenatural relacionado à mortes por estrangulamentos. 

- O Anjo da Morte de repente deve ter dado uma ordem de recrutamento. - especulou Frank, com comicidade no tom de voz. 

- Duvido muito. - rebateu Carrie, discordante. - Segundo as lendas, o Anjo da Morte apenas ceifa pessoas que fazem pactos com demônios para estenderem suas expectativas de vida ou aqueles que não estão aproveitando suas vidas da melhor forma possível. - informou ela. 

- Hum, interessante. - disse Frank, assentindo devagar. - Podem ser Zetas... eles são mestres em deixar pistas que impedem deles serem suspeitos. 

- Também não. - negou Carrie, clicando com o mouse em alguma aba na tela. - Os carinhas pelados podem até ser espertos, mas... de acordo com os peritos não havia sinais de envenenamento segundo a análise toxicológica. 

Frank arregalara os olhos, sentindo um sorriso formar-se no rosto. 

- Então Ralph não era um usuário de drogas, como supunha o superintendente. - falou ele, voltando a caminhar pela praça com mais calma. 

- Espera, quem é Ralph? - perguntou Carrie, interessada. 

- A última vítima. - disse Frank, seguindo com mais confiança. - O chefe geral acredita que os estrangulamentos tem a ver com rixas por compra e venda de drogas. 

- É a hipótese mais razoável que alguém completamente desavisado quanto ao verdadeiro mal da cidade poderia pensar. - falou Carrie, reclinando-se na cadeira. - Se as vítimas não eram usuários, então... 

- Traficantes de verdade jamais se valeriam de um método tão trabalhoso. - disse Frank, atento às teorias. - Se fosse por isso, todos os cinco teriam morrido por tiros, seja em casa ou nas ruas. As marcas nos pescoços... me pareceram bem profundas, claras demais... 

- Verdade... - concordou Carrie, tentando se por na mesma linha de raciocínio do detetive. - Talvez um humano normal não deixaria marcas daquele jeito. A não ser que suas mãos estivessem sujas. - falou, digitando novamente na caixa de pesquisa. 

- Aquilo pode ser tudo, menos sujeira. - disse Frank, o tom sério. - A vizinhança, pelo menos a da casa onde Ralph morava, era bem movimentada, parece que pessoas andam pela rua até tarde da noite. Estou começando a apostar em espíritos vingativos, o que explica as marcas de dedos terem os mesmos tamanhos. 

Carrie inclinara-se para mais perto da tela do computador, hipnotizada pelos resultados das palavras-chave que digitou com uma surpreendente velocidade. 

- Carrie? - perguntou Frank, estreitando os olhos. - Achou algo? 

- Espectros. - disparou ela, em tom de voz sussurrante. 

- O quê? 

- Os guardiões das trevas. - disse ela, movendo a barra de rolagem ao ler mentalmente o texto que  encontrara. - São responsáveis por levar as almas corruptíveis e protegê-las de entidades que desejam purifica-las e alça-las ao reino pacífico dos mortos. Uma vez que uma alma corrompida no plano material é levada por um Espectro, sua essência passa a ser dotada de vingança e ódio profundos de modo permanente, a menos que uma outra entidade poderosa o bastante para reverter o processo acabe por tomar as almas do Espectro coletor. - tomou mais um gole da bebida quente. - Estrangulamentos não é bem o modus operandis... - disse, com ar meio desanimado. 

- Almas corrompidas por outras...? - questionou Frank, ainda sem estar convencido. Logo acenou que não com a cabeça e o dedo indicador para um vendedor de cachorro-quente querendo lhe oferecer. 

- Almas vingativas não se tornam Espectros. - explicou Carrie. - Eles não tiveram passagem sobre o plano terreno, nunca foram humanos. Em outras palavras, são entidades originadas no plano extraterreno e que assumem total controle de seus comandados. Como um show de marionetes... 

- Então são os danados que manejam as cordas... - disse Frank, satisfazendo-se ao assentir para si mesmo após aquele esclarecimento facilitador para o caso. 

- Exato. - confirmou Carrie, movendo a página mais para baixo com o mouse. - Mas veja só... - deu um sorriso de canto de boca ao olhar a figura de um objeto de caráter místico na página. - Já pensou se pudermos controlar os manipuladores? 

Frank franzira o cenho. 

- Me diga como isso é possível. 

- Existe uma espécie de apito asteca usado para espanta-los, mas com certeza são extremamente difíceis de se encontrar, é claro que você não vai gastar um dia e meio de viagem com o risco de haver outro caso nesse período, então... - rolou mais para baixo, clicando na imagem que ampliou-se no ecrã. 

- Então...? - perguntou Frank, mal aguentando-se de curiosidade. 

- Consideremos a segunda opção, a qual tem tudo a ver com o que eu disse antes. Um cálice místico cujo feitiço pode subjugar entidades obscuras e os Espectros estão inclusos na lista. - informou Carrie, lendo os parágrafos. 

- Talvez o clube seja um ponto de encontro para jovens ocultistas que praticam suas vinganças pessoais. - especulou Frank, cada vez mais certo diante dos desdobramentos. - Quando as últimas informações sobre as outras quatro vítimas vierem, você me liga imediatamente. OK? 

- Pode deixar. - disse Carrie. - O Cálice das almas infortunadas. Sangue de gente morta, caveira de recém-nascido, tiras de pele de uma criatura noturna, palavrinhas mágicas a critério do usuário e "abacadabra", você tem o feitiço realizado. 

- E o desgraçado bem na palma da minha mão. - disse Frank, sorrindo de leve, auto-confiante quanto à missão. 

- Por anos enfrentou os lacaios, hora de encarar o "Poderoso Chefão". - brincou ela. 

- Carrie, você é a melhor. - elogiou Frank, o tom esbanjando uma sincera gratidão. - A propósito, esse cálice parece ser tão raro quanto o apito asteca, bem difícil de ser achado, ainda mais na internet... Por onde você fuçou? 

- Na Deep Web. - disse Carrie, em seguida dando mas um gole no café, olhando para a tela do computador. 

- Sério? - indagou Frank, cético. 

- Este site de vendas de artefatos ocultos é bem informativo. - disse ela, fazendo certo mistério propositalmente à Frank. 

- Site de vendas?! Espera aí... então você... - disse ele, empolgando-se ao sorrir esperançoso. - ... você resolveu comprar uma versão autêntica do cálice? 

- Não, seu tolinho. - negou ela, revirando os olhos. - Versões para colecionador, não para praticantes. Na rede convencional, os resultados eram vagos demais, então instalei alguns recursos especiais para navegar mais a fundo. Mas fica tranquilo, a máquina ainda está intacta. 

- Vê se toma cuidado. - aconselhou Frank, meio preocupado. - Os lugares mais sombrios da internet podem esconder algumas surpresinhas bem desagradáveis. - fez uma pausa, olhando no relógio de pulso. - Muito bem, vou solicitar uma reunião com o diretor e o superintendente e conseguir a autorização ainda hoje, senão a investigação não decola. 

- Este é seu plano B? Boa sorte. - desejou Carrie, agora comendo um cupcake de morango. - Espero ainda vê-lo no DPDC depois das 19 horas. Ainda precisa arranjar um jeito de entrar na casa noturna, sob disfarce é claro. 

- Até você!? - reclamou Frank, fazendo cara de desconforto. - Não vou me disfarçar coisa nenhuma. Além do mais, nesse horário vou precisar ligar para a Susan, a tia do Ralph, pra ver se está tudo bem com ela e a casa. Se ela me ligar depois das dez, significa alerta vermelho. 

- Francamente, se não mencionasse "tia do Ralph" eu perguntaria quem é essa tal de Susan. - disse Carrie, o tom meio incomodado. 

- Algum problema com isso? - perguntou Frank, sorrindo sacanamente. 

- Concentração no caso. - desconversou ela, abocanhando mais um pedaço do cupcake. - Tem certeza de que quer entrar lá sem disfarce? 

- Absoluta. - disse Frank, categórico. - Se houver vampiros envolvidos nessa seita macabra, vou trazer minhas facas enferrujadas, por via das dúvidas. 

- Bem pensado. Até mais, tigrão. - disse Carrie, bem-humorada. 

- Falou. - encerrou Frank, logo desligando e voltando a caminhar, desta vez com mais pressa. 

                                                                                              *** 

Bairro Drunx - 20:05. 

A rua onde localizava-se a misteriosa casa noturna estava movimentada por pessoas com vestes no estilo punk que andavam exageradamente eufóricas em direção ao clube. 

Frank, dentro de seu carro estacionado numa esquina a uma certa distância, acompanhou o andar dos jovens despreocupados com uma expressão de estranheza estampada. 

- Parece até re-re-re-inauguração. - comentou ele, em tom baixo. - Ou talvez liquidação de Ecstasy. 

O som de seu celular tocando cortara seus pensamentos. Fuçou em um bolso de seu casaco de couro marrom, logo retirando o aparelho e apertando o botão de atender. 

- E então, como está indo aí? - disse ele, sem tirar os olhos da casa noturna. 

- Aparentemente, tudo está em plena calmaria. - disse Carrie, que ficara incumbida pela monitoração de todos os cômodos após a autorização forçada do superintendente graças à reunião de duas horas e meia na qual ele, Frank e o diretor Duvemport participaram. - Roupão xadrez é tão fora de moda... - opinou ela, lembrando-se do momento em que viu Susan sair do banheiro de seu quarto após o banho. 

- Ahn... Tudo bem, eu ainda estou vigiando o clube à uma distância segura. - disse o detetive, permanecendo encarando as pessoas que entravam e saíam do estabelecimento. - Dois seguranças inflados de esteroides guardam a passagem. E ainda não faço a mínima ideia de como entrar nesse pardieiro. Além disso, estou indeciso se isto é só mais um clube noturno para jovens gângters ou uma mistura de pub rock com cartel de drogas. 

- Não sei, mas... - disse Carrie, sem saber como ajuda-lo daquela vez. - Tente se misturar. Talvez não vá ser tão difícil na hora. 

- Diz isso porque ficou com o trabalho sossegado. - disparou Frank, com toda a honestidade. 

- Sossegado?! - discordou Carrie, elevando o tom. - Vou te dizer o que é trabalho sossegado: Ficar horas vigiando uma garota com péssimo gosto para roupas, mas no fundo se sentindo uma espectadora de um possível assassinato brutal que pode ocorrer a qualquer momento, com medo de você acabar chegado tarde demais e... 

- Tudo bem, tudo bem, já entendi, você provou seu ponto. - disse Frank, rendendo-se. - Está tendo um trabalho tão difícil quanto o meu. Mas fica tranquila. Os alarmes vão disparar assim que Susan perceber um sinal do espectro tentando ataca-la e ela vai me ligar. O que ela está fazendo? 

- Lendo uma revista sentada no sofá da sala de estar, o mesmo sofá em que seu sobrinho foi encontrado morto. - disse Carrie, olhando para o quadrado que representava uma imagem miniaturizada da sala, ampliando-o em tela cheia com um clique. - Ela espera ser atacada da mesma forma. Provavelmente ela vai estar fingindo ler revista ou vai decidir ligar a TV e ficar assistindo até depois da meia-noite. Está bem próxima do telefone. 

- Beleza. - disse Frank, sentindo-se preparando para seguir em frente e lidar com os seguranças a fim de garantir sua entrada no clube. - Acho melhor eu ir agora. Cansei de esperar. 

- Tem certeza? - perguntou Carrie, a expressão de relutância. 

- Preciso descobrir quem está por trás disto, de um jeito ou de outro. - elucidou ele, impaciente. 

- Sem um convite? - questionou Carrie, mordendo os lábios em preocupação. 

A pergunta fizera o detetive desistir de tocar na maçaneta da porta do carro para sair, fazendo-o ficar pensativo por alguns segundos. 

- Cacete... não tinha pensado nisso... 

- Você falou como se estivesse presenciando um evento especial - disse Carrie -, então é óbvio que precisa de um exibível para conseguir entrar. 

- Pior que é verdade. - disse Frank, preocupando-se ao olhar aflito para o grande número de pessoas que entravam. - Parece estar lotado... - estreitou os olhos, inclinando-se. - Quer saber? Exibível o cacete. Vou mostrar meu distintivo, entrar e dar voz de prisão. É assim que... - pausou bruscamente, notando a chegada de um carro preto luxuoso bem próximo do tapete vermelho que levava aos seguranças na entrada. 

- Frank? - perguntou Carrie. - O que está vendo? 

O detetive pegara seu binóculo, o qual usaria caso avistasse daquela distância algo ou alguém que lhe parecesse suspeito com uma só olhada. 

- Frank, o que foi? - insistiu Carrie, curiosa. 

- Ah... seu desgraçado, te peguei. - falou ele, sorrindo de canto de boca, mantendo o binóculo nos olhos, observando sair do carro um homem pardo, parrudo, de terno preto e segurando uma caixa revestida com papel para presente na mão esquerda, acompanhado por três caras relativamente menos fortes fisicamente que ele. - Susan me deu uma descrição desse cara. Muito provavelmente é o mesmo que deu uma surra no Ralph na última noite em que ela o seguiu até aqui. Ele trouxe uma caixa, um presente... 

- O cálice! - soltou Carrie, a voz soando mais alto do que o esperado. 

- Sim, verdade, o cálice, pode estar com ele. - disse Frank. - Alguém da gangue vai ficar responsável de invocar os espectros para atacar alguma testemunha ocular... 

- Susan... - disse Carrie, aproximando os olhos da tela, fixando sua atenção na mulher. - Esse cara notou ela depois de dar um sarrafo no coitado. 

- E para evitar qualquer eventual denúncia por parte dela... - disse Frank, ligando os fatos, assentindo com satisfação. - É! O desgraçado quer completar o serviço matando a única testemunha que desconfiava do lugar. 

- Supondo que o grandalhão tenha memória fotográfica... - disse Carrie, especulativa. 

- E com certeza ele tem. - afirmou Frank, saindo do carro às pressas, batendo forte com a porta. 

- Ou alguém do clube, disfarçado, tirou uma foto. - deduziu Carrie, sem desprender sua atenção do monitor. - Menina descuidada. Comovida demais com a situação do sobrinho, resolveu se juntar à manada de curiosos e ficou exposta demais. 

- Ótimo, Carrie, finalmente nossos raciocínios estão conectados. - disse Frank, ativando o alarme do carro, mantendo os olhos em frente, diretamente seguindo até à casa noturna. 

- E quando não estiveram? - perguntou a assistente, franzindo a testa. 

Uma nova pausa de Frank a assustou do mesmo modo de antes. 

- Odeio quando você para de responder... - fizera também uma pausa brusca ao arregalar os olhos para a tela, assistindo Susan... e percebendo um detalhe estranho surgindo sorrateiramente do teto. - Fran... Frank? - disse ela, gaguejando. 

O detetive parara na calçada para ouvi-la. 

- O que foi, Carrie? - perguntou ele, assumindo seriedade na voz. - Eu tenho que desligar... preciso entrar logo, pegar o cálice, desfazer o feitiço e algemar os cretinos... 

- Falou com a Susan sobre o círculo de sal? - perguntou Carrie, o tom inconfundivelmente apreensivo. 

- Carrie... o que tá rolando? - perguntou Frank, preocupando-se. - O que está acontecendo na sala? 

- Só responde minha pergunta, por favor. - disse ela, rigidamente. 

- Bem, na verdade não falei... - confirmou ele. - ... nem deu tempo de explicar, eu pensei na conversa com o superintendente e acabei indo embora mais cedo do que esperei, então... 

- Então é melhor você correr para a casa dela, agora! Pisa fundo! - disse Carrie, alardeada ao observar um braço negro descer do teto diretamente para a cabeça de Susan, que mal se movia entretida com a revista que lia. - Tá chegando perto... movendo os dedos... eu nunca tinha visto um, mas.. é como um ser feito de sombra. 

- Mas eu já saí do carro. Estou a poucos metros do clube. - disse Frank, lívido e aturdido. - Os caras são rápidos. Mal fizeram 10 minutos desde que chegaram e já estão invocando os malditos. 

- Vai logo! - exclamou ela, nervosa. - Vou disparar o alarme, ela vai ligar pra você. - falou, logo apertando um botão de um pequeno aparelho preto retangular conectado às câmeras. 

- O quê? Espera... - disse Frank, começando a ficar desesperado, olhando para as pessoas que se direcionavam ao clube e sendo empurrado e xingado por outras que passavam por ele batendo no seu ombro. - Carrie... 

- Tarde demais, já apertei o botão. - afirmou ela, observando Susan se levantar do sofá e dar um grito de pavor, logo tirando o telefone do gancho e discando o número de Frank decorado por ela, afastando-se da mão negra que descia para agarra-la pelo pescoço. - Ela está ligando pra você, aguarde. 

- Não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. - elucidou Frank, cada vez mais aflito, passando sua mão direita pelo rosto em demonstração de nervosismo. 

- No seu lugar, eu escolheria a casa da Susan. - disse Carrie. - Mas você também pode chegar nos brutamontes e mostrar o distintivo para entrar com facilidade.... é, isso é um terrível dilema. 

- Tchau, Carrie. - disse Frank, desligando e atendendo a ligação de Susan em seguida. - Oi, Susan. Algum problema? 

- Detetive! Eu não sei... uma mão, uma mão preta fantasma saiu do teto e... 

A ligação caíra naquele instante, proporcionando mais preocupação para Frank que desligara com o semblante pálido. 

- Ah, malditos espectros... 

                                                                                              ***

Não importava para qual direção Susan seguisse para fugir, a mão sombria descia de vários pontos dos teto e alongava-se para conseguir pegar o pescoço da jovem. 

Vendo-se sem saída, Susan pegou um taco de golfe - esporte praticado por Ralph -, próximo à um vaso com uma planta maior que as demais, para se defender do ataque. 

A moça balançava o taco para espantar a entidade, a face indicando desespero e choro. 

- Sai! Sai daqui! - gritava ela, recuando passos á medida que tentava intimidar a criatura com aquele bastão de metal. - Ai, meu deus... - disse, após ver que a mão subira de volta ao teto. Olhou para cima, atenta. 

Alguns segundos, ela retornara... bem em cima de Susan, que se abaixou produzindo um grito de susto. Por pouco o espectro não conseguira puxar seu cabelo. Limitou-se a fugir arrastando-se pelo chão com os cotovelos vendo que havia um limite de alcance. 

- É o único jeito... - disse ela para si mesma, suando em abundância enquanto se arrastava para o corredor que levava para o quarto de Ralph. 

As mãos negras continuavam a descer do teto, entretanto não conseguiam chegar a tocar um fio de cabelo de Susan por conta da estratégia de fuga da mesma. 

- Espera aí... - disse ela, continuando a seguir, mas perdendo as esperanças. - Assim como elas vem de cima... também podem vir de baixo. - seus olhos ficaram mais marejados. - Ah, merda! 

A porta foi aberta com um forte chute dado por Frank, que logo entrara com rapidez ao ouvir os gritos de socorro de Susan que, ainda no chão, virou-se para vê-lo. 

- Detetive! - berrou ela, alarmada, desviando seu olhar aterrorizado para cima. - Cuidado! 

O espectro, sendo mais rápido que a percepção do caçador, pegara-o pelos ombros com suas duas mãos sombrias, tirando-o do chão. 

- Detetive! - gritou Susan, levantando-se, sem saber o que fazer para ajuda-lo. 

Frank grunhia com os dentes cerrados para se livrar daquelas mãos. Vasculhava nos bolsos de seu casaco a amostra que usaria no caso de ser atacado. 

Após muita luta, conseguira retirar um frasco contendo um pouco de sal grosso, repelente eficaz contra seres obscuros como aqueles. 

Tirou a tampa - seu corpo sendo alçado para o teto - e jogara rapidamente o conteúdo. 

O sal penetrou nos braços umbrais, fazendo-os, instantaneamente, virarem uma fumaça negra dissipante, desmaterializando o espectro. Frank, livre, caíra no chão com os joelhos dobrados sem grandes danos. Foi direto à Susan, levando-a à passos rápidos até a cozinha. 

Mantivera a porta trancada pelo taco de golfe caso o espectro conjurasse espíritos vingativos. 

- Deveríamos ter saído daqui, não acha? - sugeriu Susan, não entendendo a estratégia de Frank para deter a entidade. Olhou para ele, confusa, enquanto o via mexendo na dispensa à procura de sal. - Me explica o que é aquela coisa, por favor.

- É meio complicado explicar em detalhes numa hora dessas... - disse Frank, abrindo as portas da dispensa e desorganizando os potes e caixas. - Tem sal grosso aqui? 

- Na última porta. - disse ela, tremendo apavorada encostada na parede. - Eles vão voltar... 

- Ah, eles vão. - disse ele, tirando o pote com sal e logo retirando a tampa. Virou-se para Susan, olhando-a com seriedade na expressão. - Susan, preciso que você fique bem quieta. Não faça nenhum movimento brusco. - agachou-se, jogado o sal no chão ao fazer o círculo. 

A moça observava o ato balançando a cabeça em negação. 

- O que está fazendo? - perguntou ela, se aproximando. 

- Preciso que fique no círculo, assim vai estar 100% protegida contra eles. - avisou Frank, tocando no ombro. 

Obedecendo, Susan entrara no círculo feito de sal, juntando as mãos para frente. 

- Tem lugar pra mais um aqui... eu acho. - disse ela, olhando para o chão. 

Frank deu um um sorriso tímido. 

- Olha, agradeço a gentileza, mas sei como lidar com esses desgraçados. - disse ele, apontando para trás com o polegar. 

- O que você é? - perguntou Susan, estreitando os olhos. - Um Caça-Fantasmas? 

- Sem o macacão e a mochila de prótons. - disse ele, olhando pela fechadura da porta da cozinha. Virou-se para ela. - Olha, Susan, vou ter que sair pela janela... 

- Não tem problema nenhum, desde que fique fora de perigo. - disse ela. 

- Juro que vou explicar pra você tudo o que isso tem a ver com a morte do Ralph. Prometo. - disse ele, fitando-a fixamente. Apontou para o círculo. - Sal grosso repele fantasmas. O espectro pode conjurar espíritos vingativos sob o controle dele. Vou dar uma saidinha rápida à outro lugar... 

- A casa noturna? - perguntou Susan, especulando. 

- Isso, exato. - confirmou Frank, assentindo, olhando para a porta de relance e andando para trás se aproximando da janela da cozinha - Você é uma testemunha. Os caras da gangue querem eliminar você através desses monstros que te atacaram. Sim, humanos podem controlar espectros... - esbarrara na parede, virando-se para a janela. 

Susan compreendia cada detalhe repassado por Frank com acenos positivos de cabeças. 

Por fim, o detetive pulara, com árduo esforço, pela janela, caindo com barulho no jardim. 

                                                                                               ***

Drunx - Casa noturna - 22:40. 

Frank exibira seu distintivo de oficial federal para os dois seguranças truculentos que guardavam a entrada. 

"Pelos olhares, foram contratados hoje e somente para hoje.", pensou ele, aliviado. 

- Tudo bem, pode passar. - disse um deles, abrindo caminho. 

- Obrigado. - disse Frank, seguindo em frente. 

O segurança à direita do detetive olhou de esguelha por um segundo e notou um detalhe estranho no ouvido direito de Frank. 

- Ei, isso uma escuta? - perguntou ele, o tom rude. 

- Isso é da sua conta? - rebateu Frank, olhando-o por cima do ombro. 

                                                                                            ***

Em uma sala banhada por uma luz fluorescente meio esmeralda, um rapaz careca aparentando ter idade na casa dos 20, um dos capangas do suposto proprietário do clube, estava sentado em postura reta numa cadeira segurando o cálice das almas infortunadas com as duas mãos. Como consistia o feitiço, os olhos do rapaz estavam totalmente brancos, indicando que o mesmo "possuía" a visão de seu subjugado além de estar o controlando mentalmente. 

Uma espécie de guarda da sala encontrava-se dentro, sentando em uma poltrona lendo uma revista pornô. 

De súbito a porta voara até o chão após ser arrombada com brutalidade... por ninguém menos que Frank, triunfalmente adentrando no recinto sacando um revólver, logo notando os olhos brancos do rapaz que recitara o feitiço. 

O guarda, por reflexo, também sacou sua arma, levantando-se e apontando-a para Frank. 

O detetive apontara sua arma para o brutamontes, com um contato visual que intencionava obriga-lo a se render. 

- A festinha rave de vocês acabou. - disse o detetive. - Larga a arma. - ordenou. 

Lentamente, o guarda, obediente, depositou sua arma ao chão, levemente erguendo a outra mão em sinal de rendição. 

De repente, aproveitando a guarda baixa do outro, Frank apontara a arma para o rapaz que segurava o cálice - e que estava de perfil para ele - e efetuou um único disparo em seu braço esquerdo. 

- Seu filho da... - disse o guarda, partindo pra cima de Frank com tudo. 

O jovem caíra de lado no chão, derrubando o cálice, consequentemente derramando uma certa quantidade do sangue humano que estava dentro dele. 

Frank dera um cotovelada no nariz do guarda, sujando seu casaco com sangue devido ao forte golpe. Caindo pra trás, o grandalhão batera com a cabeça na parede, ficando inconsciente. 

Restava tempo para reverter o feitiço antes da conjuração dos espíritos corrompidos e Frank soubera aproveita-lo. Correu para apanhar o cálice e suspirou aliviado ao olhar dentro dele. 

- Ufa... ainda sobrou um pouco. - disse, referindo-se ao sangue. Olhou em volta para se certificar de que a barra estava limpa, logo depois voltando sua atenção para o cálice, pronto para recitar o feitiço revertedor. 

Enquanto isso, na casa de Susan, a porta da cozinha recebia batidas violentas e o taco de golfe parecia que não iria barrar por muito tempo. Olhando para a janela quadrada de vidro reforçado da porta, Susan pôde ver silhuetas de braços e mãos humanas batendo repetidamente. A cada batida seu desespero só aumentava, parecendo que o círculo, por mais que Frank assegurasse, não transmitia tanta segurança quanto ela pensava. 

- Vão embora! - gritou ela contra as almas sedentas por ódio e vingança que batiam contra a porta. 

Na casa noturna, Frank segurava o cálice com firmeza, olhando para o resto de sangue que ficou. 

- Espírito imundo e profano, repelo-te para que deixes esta terra e partas imediatamente para teu mundo. - disse ele com os olhos fechados. Abriu um só e depois o outro. - Funcionou? 

- Falou como um exorcista profissional. - disparou Carrie, na escuta. 

- Ah, nem vem. - disse ele, virando o cálice de cabeça para baixo, derramando todo o líquido vermelho e grosso. - Falei o que veio à cabeça, não tive tempo de elaborar uma fala legal. 

- Eu gostei. Atitude inteligente espanta-los ao invés de controla-los. - disse Carrie. - E pelo visto funcionou. O espectro desapareceu. E os fantasmas também. 

- O quê? Ele chegou a invoca-los? - perguntou Frank, tocando na escuta andando para sair da sala. 

- Sim, mas graças à tranca improvisada, nenhum deles chegou a atacar a Susan. - disse ela, clicando no quadro que filmava a cozinha. - Ela parece bem tranquila. Sorte que tinha sal. 

- Lutei com alguns carrancudos, mas estou bem. - disse Frank, andando pelo corredor de saída. - Algemei uns, amarrei outros... e estou com o cálice comigo. Como suspeitei desde o princípio: Um clubinho de gente doida por vingança usando métodos ocultistas. São feiticeiros aprendizes na arte da magia demoníaca, se conseguem fazer isso com espectros, mal posso imaginar como subjugam demônios. 

- É bom saber, e pelo que parece o chefão era mesmo o cara que trazia a caixa com o cálice dentro e que surrou o Ralph. Já solicitei uma equipe, estão a caminho. - informou Carrie. - E desligando... 

- Falou. - disse Frank, também desligando a escuta. 

                                                                                              ***

Drunx - Em frente à Casa noturna - 23:15. 

A fachada do clube era banhada pelas luzes azul e vermelha das luminárias das viaturas do DPDC. 

Enquanto os envolvidos no crime eram levados pelos policiais, Frank, um pouco mais distante dali, falava ao celular com Susan em um ponto discreto, onde fosse percebido por poucas pessoas que bisbilhotavam por ali em busca de informações sobre a prisão dos traficantes e também praticantes de rituais obscuros. 

- Sinto mesmo em dizer, Susan... - disse Frank, encostado num poste. - O Ralph realmente... comprava drogas no clube. Eu fiz um rápido interrogatório com um dos caras que algemei, e ele me disse que o Ralph caloteava, além de bancar o X-9 de vez em quando. O acúmulo de dívidas... enfim, você sabe. - fez uma pausa, ouvindo-a. - Aquela coisa? Tá falando do espectro? Bem, err... Os caras faziam rituais de invocação para se vingarem, mas pelo que sei há pouca ligação entre eles e o Ralph, segundo as informações que me passaram há pouco. Mas é certo que todas as outras vítimas frequentavam a espelunca, mas apareciam em períodos diferentes, acho que Ralph, no máximo, só ouvia falar deles. - fizera outra pausa. - Pode deixar. As câmeras vão ser removidas, mas é melhor você varrer o sal do chão, talvez meus companheiros queiram ir até aí e... Ah, você já limpou tudo?! Ah, então OK... De nada, Susan. Boa noite... Obrigado. 

Encerrara a ligação, guardando o celular no casaco e voltando a se juntar aos agentes do DPDC que efetuavam as prisões, finalizando mais uma investigação, apresentada à polícia como sendo um caso comum de tráfico de drogas, com todos os detalhes sobrenaturais omitidos. 

                                                                                        ***

Drunx- Área residencial. 

Na bela manhã do dia seguinte, Frank estacionara o carro em frente à casa que agora pertencia à Susan que resolvera permanecer morando lá assumindo, contratualmente, como proprietária. 

A moça de cabelos loiros estava com as madeixas amarradas em um rabo de cavalo e com roupas esportistas - legging, tênis e regata branca -, voltando de uma caminhada. 

- Detetive?! - disse ela, andando rápido até Frank com um sorriso amigável. - O que faz aqui?

Meio sem jeito, Frank sorriu timidamente. 

- Sei lá. Só passei para dar uma olhada, ver se está tudo bem, se você está bem. - disse ele, dando de ombros. 

- Honestamente, me sinto ótima. - disse ela, rememorando a noite passada. - Apesar daquela doideira de ontem. Então resolvi espairecer um pouco hoje cedo. - olhou para sua casa de relance, depois voltado-se para Frank. - O senhor... entrou escondido na casa?

- O quê? Não... eu só... 

- Não precisa ficar envergonhado. - disse Susan, o tom compreensivo. - É seu trabalho, afinal. Por mais bizarro que seja. - falou, franzindo a testa com um sorriso.

- Bizarro é pouco. - disse Frank, dando uma risadinha nervosa. - Mas tenho que admitir que o monstrengo de ontem era novidade pra mim. 

- Não sabia exatamente como enfrenta-lo? - perguntou Susan. 

- Não, quer dizer... Não totalmente novo no meu ramo. Sabe os espíritos que estavam querendo invadir a cozinha? Então, aquelas almas estavam sendo controladas pelo espectro... - disse, gesticulando com os dedos indicadores. - ... que estava sob o controle de um dos membros da gangue por meio de um cálice místico enfeitiçado. 

- É... agora tudo se encaixa. - disse Susan, suspirando com alívio. - Engraçado... Você passa a ver o mundo de uma maneira completamente diferente depois de uma experiência dessas. Acho que vou passar a rir de filmes de terror de agora em diante. 

- Este é o efeito mais natural possível. - disse Frank, sorrindo com bom humor. Tocara-a no ombro. - Se cuida. 

- O senhor também, detetive. Obrigada por tudo. - agradeceu Susan. - E vê se não morre pelas mãos dos monstros à solta por aí. 

Frank desatara em risos, abrindo a porta. 

- Se vir ao seu conhecimento ou você presenciar qualquer caso paranormal, assassinos de sorrisos largos, homens esguios sem rosto, enfim... Quem você vai chamar? - perguntou ele, arqueando as sobrancelhas com um sorriso fechado. 

Susan retribuíra com um sorriso mais aberto. 

- O melhor detetive paranormal da cidade: Frank, o caçador de monstros. - disse ela. 

- Seria um bom título para minha autobiografia. - opinou Frank. - Mais um pra lista. - disse, entrando no carro. 

Despedira-se de Susan com uma aceno de mão e seguido de um joinha, logo inserindo a chave e girando-a. 

                                                                                                ***

Na sala de reuniões os ânimos fervilhavam em ebulição.

Carrie deu as costas para os dois pesos-pesados, passando a mão na boca em sinal de preocupação pelo futuro de seu amigo na mais efetiva corporação policial de Danverous City.

Frank e o diretor Duvemport entreolhavam-se como dois ferrenhos rivais prontos para o embate.


                                                                                    CONTINUA...

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