Projeto Thunderbird

Imaginem um pássaro com mais de 2 metros de altura - mais alto que eu -, com uma cabeça praticamente oval, um bico alongado e com 90% do corpo coberto por penas. Pois bem... estou bastante orgulhoso dos meus pais por eles terem feito uma das maiores descobertas confidenciais já realizadas aqui na cidade. Moramos em um casa grande, muito próxima de uma floresta - como sempre queríamos - e a uma certa distância da vizinhança da área residencial onde anteriormente vivíamos. Nos mudamos em prol do aprofundamento das pesquisas dos meus pais, que passaram a ficar obcecados por quererem ver de perto uma criatura que, por durante várias décadas, já era mencionada pelas redondezas, mas como uma mera lenda. Obviamente, não deram conta do trabalho sozinhos, havia um grupo seleto de outros cientistas (acho que uns 4, se não me engano) que auxiliaria na coleta de amostras, pois, tendo em vista as lendas, parecia ser perigoso se aproximar mais do que 5 metros da gruta onde o pássaro gigante vivia junto de seus "filhos".

Tudo o que se tinha por longos 6 meses eram penas pretas espalhadas pelos arredores da floresta e recolhidas para estudos com a finalidade de confirmar o código genético do pássaro e determinar quanto tempo esta espécie está no planeta. O laboratório dos meus pais ficava no subterrâneo, o que poderia ter sido um porão caso resolvêssemos ser uma família tradicionalmente comum. Por maior que fosse o vínculo com a comunidade científica, meus pais convenceram-se de que seria melhor manter o caso do pássaro estranho em sigilo absoluto até que resultados mais contundentes surgissem.

Daí em diante, o grupo nomeou a iniciativa como "Projeto Thunderbird". Pensei: "Resolveram dar um nome para aquela coisa medonha?". Fui repreendido pelo meu pai, que afirmou rigorosamente que eu não tinha nenhuma posição de dar palpites no estudo, apenas me pediu para seguir com minha "vidinha medíocre de adolescente" (eu tenho 18 anos, só pra constar). Minha mãe concordou com o velho chato, complementando ao me pedir para que não comentasse os rumos do estudo com ninguém, nenhum dos meus amigos e conhecidos, e também, não menos importante, não caminhar pela floresta sozinho com a intenção de ir até a gruta de onde capturaram o "Thunderbid", principalmente à noite.

Segui fielmente os avisos durante todos os 6 meses.

Sim, por somente 6 meses obedeci aquela dupla de ingratos que jamais reconheceram meus esforços como o filho exemplar que fui inspirado a ser, nenhum gesto de gratidão foi me dado. Eles desejavam meu progresso, mas pareciam pouco se importar quando eu realmente o conseguia, depois de tanto provar que eu não queria nada em troca, não importava: eles sempre achavam que eu priorizava mais o ganho material do que a satisfação. Eu tinha dois irmãos. E isso já é razão suficiente para eu não ser o filho favorito. Jocelyn trabalhava em um loja de produtos cosméticos e Walter era motorista de táxi. Sentia inveja daqueles dois. Não pelos empregos que escolheram, mas por receberem a aprovação dos meus pais de forma injusta. Eu tinha inclinação para a ciência, merecia algum crédito por uma participação na pesquisa, pelo menos na parte teórica. Biologia era minha paixão escolar.

Mas não. O rejeitado aqui foi reprovado com apenas dois olhares de puro desdém.

Pensei em coisas más. Coias horríveis. O que eu tinha feito para merecer toda aquela rejeição? O que Jocelyn e Walter tinham de tão especiais para serem tão aceitos e eu não?

Tudo bem, eu tive meus problemas, minhas crises, meus dramas, minha criação não foi nada fácil. Mas ao menos naquela vez eles estavam dando atenção a outra coisa que não fosse para aqueles dois malas. Aquele pássaro gigante os fazia madrugarem naquele laboratório.

Não merecia tanto repúdio. Necessitava de um tratamento mais justo. Não me segurei na hora. Depois dos 6 meses de estudo, os caras que trabalhavam junto de meus pais estavam em consenso sobre transferir o Thunderbird para uma base ultra-secreta de segurança maximamente reforçada. Se você pensou que ouvi pelo outro lado da porta, acertou em cheio. Quase fui pego no corredor, mas consegui escapar, acabei sendo mais rápido. Puro golpe de sorte obter aquela informação.

O Thunderbird, de fato, era um monstro, como bem rezava a lenda. Espiei ele por uns 2 minutos pela janelinha de vidro na porta. Senti minha pele se eriçar toda. O bicho estava deitado sobre uma cama de metal, com vários aparelhos ao redor, iluminado por aquelas lâmpadas de salas de cirurgias - única fonte de luz daquela sala, o que deixou tudo meio sinistro. Todo coberto de penas pretas, mais alto que um ser humano normal, uma cabeça meio oval - como disse antes -, enfim, ele era inteiramente preto e o bico meio cinzento e bem comprido. Por um motivo óbvio não deu pra ver os olhos.

Aproveitei que tinham saído para fora da casa para discutir os planos do dia seguinte, no fim da tarde, e corri para o subterrâneo após roubar as chaves e fazer cópias delas para mim graças ao vizinho que era um chaveiro. Dentro da sala onde ficava o Thunderbird, li protocolos arquivados nos armários. Meu queixo quase caiu. A coisa do meu lado era uma ave de origem pré-histórica, extremamente rara, mas sem correr risco de extinção. O Thunderbird conseguiu a proeza de perpetuar a espécie por séculos, driblando qualquer chance de ser extinto da face da Terra. Ele é adaptável à condições severas, como verões extremos e invernos rigorosos, é carnívoro, excelente predador e possui um excelente órgão reprodutor. E aí vem a parte mais... existe uma definição melhor para isso? Deixo com você então. A informação que me deixou perplexo foi que o Thunderbird pode reproduzir um "canto" mortal, um som ensurdecedor que atinge a intensidade de 205 dB, mais do que a quantidade necessária para matar um ser humano. Eu senti a respiração pesada dele. Estava dormindo como um bebê, então, talvez, um barulho qualquer poderia acorda-lo, fui friamente sorrateiro quando entrei.

Mas antes de sair tive que pôr minha "vingaçinha" me prática. Saquei meu celular e pus para filmar. Foquei no Thunderbird, fazendo uma narração com todas as informações obtidas pelos meus pais, até o nome do projeto eu deixei escapar sem querer... querendo. No mais, revelei tudo. Até mesmo a suspeita de que o Thunderbird possa ter dado origem a diversas outras espécies, podendo ser um "híbrido". Provavelmente, os corvos e os abutres sejam seus parentes mais próximos.

O vídeo - com apenas 3 minutos de duração - foi publicado na internet no mesmo dia. Criei um canal com o nome da iniciativa e o pus como primeiro vídeo. Em menos de 2 horas, o vídeo já tinha alcançado mais de 10 mil visualizações e o canal cerca de 81 inscritos e foi só aumentando.

Ocupados demais, meus pais mal acessavam a internet. Jocelyn morava no andar de cima e Walter na casa vizinha a do chaveiro, então não sabiam de nada do que rolava nos bastidores.

No entanto, a alegria de ver o estudo dos meus pais ser exposto daquela forma desesperadora acabou atingindo um certo grau de seriedade. Uma semana foi pouco demais. Eu tinha acabado de pôr a mochila nas costas naquela manhã, quando ouvi batidas bem fortes na porta. Visitas inesperadas e indesejáveis. Congelei de medo quando vi dois caras do Exército olhando para mim com bastante sisudez. Perguntei-me: "Como chegaram aqui?". Mas na verdade eu perguntei para eles o que queriam saber. Estavam atrás dos meus pais. Eu citei os nomes deles na descrição do vídeo.

"Fodeu! A comunidade científica, na certa, teve conhecimento do vídeo e alertou as autoridades maiores.". Foi só o que pensei quando eles entraram na casa, quase esbarrando no meu ombro.

Sem escolha, acabei dando a localização do laboratório e eles desceram até lá. Um deles impediu minha passagem ficando de guarda, pedindo para que eu fosse para o colégio e não me intrometesse, enquanto o outro se encarregaria de conseguir explicações.

Eu xinguei aquele brutamontes mentalmente. Mas não fazia mal, eu conseguiria o que queria quando voltasse da aula. E a reação dos meus pais não poderia ter sido diferente. Quando cheguei, os soldados ainda estavam em casa, mas com mais pessoal envolvido.

Meus pais estavam na sala junto com os que vieram primeiro. Assim que entrei, meu pai me pôs contra a parede... literalmente. Ele me acusava de várias coisas, de arruinar o trabalho, me chamou de maldição e encarnação do desgosto. Ele realmente estava muito irado para disparar ofensas tão fortes como aquelas. Minha mãe tentava faze-lo parar, enquanto eu só escutava mais e mais sermões aos gritos seguidos de mais xingamentos, palavrões, e sentia gotas de cuspe no meu rosto. Depois foi a vez da minha mãe... me dar um tapa bem forte na cara e me fazer ouvir mais reclamações. Fui trancado no meu quarto, me senti considerado um animal perigoso. Tão perigoso quanto o Thunderbird, mas sei que foi exagero.

O castigo poderia ter sido pior, bem pior. Podia ter sido preso por justa causa, Expus um conteúdo legal e oficialmente confidencial em uma plataforma virtual pública. Fui salvo pela pena que meus pais sentiam de mim. Me questionei sobre meu ato. A massa sabia da existência do Thunderbird, pondo em risco um estudo tão promissor. Mas, não sei... eu não me vi culpado. Sim, deixei me levar pelo desejo de vingança, foi "olho por olho dente por dente". Eles não me davam o devido valor, então os fiz perderem o deles. Quis retribuir desprezo com desprezo maior ainda e recebi tudo o que me foi dado nos anos anteriores multiplicado por mil.

Sorte da janela estar aberta e eu ter a liberdade de sair para esfriar minha cabeça. Mal tive tempo para explicar minhas razões. Os gritos do meu pai ainda ecoavam na minha cabeça enquanto eu caminhava pela floresta. Sim, a mesma floresta de merda que meus pais de merda me orientaram a não entrar!

Quando menos esperei, me senti perseguido. Adivinhem por quem.

Sim. Os fardados corriam atrás de mim pela floresta para garantir que eu não fosse muito longe por eu ser "perigoso". E armados ainda por cima!

Eles tinham era que se preocupar com o monstro que meus pais trouxeram apagado, sabe-se lá como.

Meu único refúgio seguro, claro, foi a gruta. Um deles gritou: "Não entre aí, idiota!". Espera um minuto, o Exército sabia o que se escondia na gruta? Sabiam do Thunderbird desde o início? Deixei as teorias de conspiração de lado e fui engolido por aquela escuridão toda.

Uma horda de pássaros pretos atacou eles, os impedindo de seguir em frente para me pegarem. Enquanto eu corria pela gruta, escutei vários tiros de fuzil. Não havia saída e fiquei agachado na escuridão daquela caverna até os tiros cessarem e anoitecer. Talvez pensassem que um urso morava na gruta. Impossível saberem de uma pesquisa tão sigilosa e secreta como aquela, meus pais calcularam todos os movimentos para que nada, nenhuma informação vazasse.

Por fim, tinha caído a noite. Saí da gruta respirando aliviado. Porém... travei no caminho quando me vi diante de um oceano de cadáveres de pássaros, todos cobertos de sangue e buracos de bala, iluminados pela luz da lua. Eram tantos que tive que pisar em alguns para conseguir passar. Com muito dó, mas pisei, afinal eu precisava voltar para casa.

Ao voltar, me deparei com a sala cheia de penas pretas. Como eu tinha a cópia das chaves do laboratório, desci até lá às pressas, já pensando no pior. Haviam penas pretas também no corredor.

Os soldados já tinham ido embora, deixando meus pais sozinhos. Jocelyn não tinha voltado do trabalho ainda e Walter... eu não sabia onde ele estava, mas estava de folga naquele dia.

Entrei no laboratório quase arrombando a porta... e encontrei meus pais... caídos no chão, os olhos abertos e as expressões tensas, além dos ouvidos golfando bastante sangue. Estavam mortos. Meus pais mortos! Fiquei sem saber o que fazer, a quem recorrer ou se eu deveria ir embora ou ficar.

O Thunderbird estava á solta pelo bairro. Ou provavelmente tinha voltado para a gruta. Tinham esquecido de incluir no arquivo que ele desperta de seu sono profundo quando algum de seus filhos fosse morto ou ferido. Ele possui um instinto incontrolável de proteção. Mas não tinha como, faltavam mais testes para se chegar aquela conclusão. Acho que... executei o plano cedo demais. Deveria ter esperado mais algumas semanas até que toda a fase de testes fosse terminada.

Meus pais foram mortos por minha causa. Mas ao menos eu ainda teria tempo de me redimir do meu erro: tentando matar aquele pássaro bizarro ou excluindo meu canal. Porém, eu ainda sinto que nada disso diminuiria a culpa terrível que estou sentindo agora.

Eles criaram tampões de ouvido revestidos com uma fibra especial, projetado para me proteger de pelo menos 194 dB, então eu estava com uma vantagem palpável, eles foram espertos, todos eles.

Saí correndo do laboratório, já com os tampões colocados nos ouvidos, e dobrei para meu quarto no primeiro andar para pegar uma lanterna com facho de longo alcance, pois, devido a alta potência do grito do Thunderbird, a energia elétrica caiu em pane. Talvez o bairro inteiro estava em um apagão.

Ao chegar na sala de estar, andando com cautela para não pisar em nenhuma pena, vasculhei com meus olhos o lado de fora, mesmo com toda a escuridão predominante.

Quando cheguei perto da janela aproximei a luz da lanterna até o início da floresta.

Me tremi inteiro quando vi aquele bicho asqueroso saindo do breu e vindo até mim com um jeito de andar muito parecido com o de um pinguim, só que mais rápido. As asas cobriam o corpo inteiro. Se alguém o fotografasse naquele exato instante, espalharia a notícia nomeando o Thunderbird de "Homem-Pássaro", uma denominação bem óbvia que seria um prato cheio para os fanáticos por lendas urbanas.

O bico dele quase chegava ao chão de tão longo e fino. Vendo-o de modo frontal pude que a cabeça não era exatamente oval, mais redonda eu diria.

Papai guardava uma arma num cofre cuja senha eu sabia de cor e salteado, mas esqueci de trazê-la.

Só congelei, naturalmente. E me veio um medo de que ele gritasse a qualquer momento, mesmo sabendo que estava com os tampões. Só tive forças para tirar a luz dele e correr para o quarto de Jocelyn, sem olhar para trás com medo de ver a figura sombria do Thunderbird me perseguindo na escuridão. Só ouvi aquele farfalhar que foi aumentando a cada degrau que eu subia, ele estava mais perto do que eu pensava.

Assim que pus alguns móveis para a porta depois de tranca-la, ouvi o Thunderbird gritar. Caramba... a casa inteira tremeu, mas, felizmente, constatei a eficácia dos tampões.

Mas para piorar, a janela do quarto de Jocelyn estava bem fechada, restando me esconder embaixo da cama... que é onde estou neste exato momento, digitando este texto para que tenha noção do meu desespero.

O Thunderbird está atrás de mim. Ele quer se vingar... pelo que fiz. Os caras do Exército tiveram sorte em terem ido embora cedo. Ou será que seus corpos estão espalhados pela floresta?

Eu pisei nos cadáveres daqueles pássaros negros e o deixei irritado.

Eu ouço ele farfalhando com suas asas encolhidas, já faz um tempo que ele se aproxima bem devagar, acho que... acho que já está subindo a escada.

Vou desfazer o mal que causei se eu sobreviver á isto, Prometo. O mal que eu causei à mim mesmo, já que qualquer tentativa de provar meu arrependimento vai ser totalmente inútil.

Oh, merda... está cada vez mais próximo.

Mesmo estando imune ao grito ensurdecedor, ele pode abrir as asas e criar correntes de vento até fazer a casa desabar. Ou triturar meu corpo com seu bico. São apenas suposições.

Brevemente apagarei o vídeo e o canal e me entender com os caras do Exército... Talvez a cela de prisão seja melhor do que morrer por esse monstro...

Meu tempo de digitação acabou... próximo demais... próximo demais... pró--

(Mensagem enviada com sucesso).

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Este conto foi escrito e publicado exclusivamente para o Universo Leitura. Caso o encontre em algum outro site com créditos e fonte ausentes, não hesite em avisar! 




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