Contos do Corvo #22


PS: Os primeiros parágrafos estão marcados em vermelho por conta de um errinho - normalmente eu marco com esta cor nos parágrafos finais. Enquanto eu escrevia, a cor vermelha não aparecia marcada, mas está aí, ficou assim, não acho que interfira na leitura :)

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                                                           O CLÃ DE RAPOSAS (PARTE 3 - FINAL)

Não sei dizer ao certo, mas... Eu senti os efeitos posteriores daquela luz cegante. Meu voo ficou mais lento, minha visão turva, um dormência no meu bico, além de minhas penas, minhas belas penas, ficaram arrepiadas. Felizmente, Louis não conseguiu me notar em meio aquele lugar iluminado somente por sua lanterna. Estava em um canto no qual o facho da lanterna não alcançava. Por mais incrível que pareça, ele se levantou como se não houvesse sido afetado... E meu desespero só crescia, pois a dormência causava imobilização temporária e aquele astro da TV estava disposto a passar o pente fino na gruta inteira, não importando os custos. 

Respirei aliviado quando ele seguiu para mais adiante, distanciando-se do ponto onde enxergou a sombra da criatura antropomórfica. Torci para ele demorar uns... sei lá, uns 30 minutos. O que eu estava sentindo certamente não ia cessar tão cedo. Mas era bem estranho. Por que um reles humano como aquele não sentiu o mesmo que eu? Ele caiu para trás como se fosse empurrado. Talvez tenha fechado os olhos 2 segundos depois da luz surgir. Eu teria feito em 1! Isso... é difícil de digerir. Em vez de ficar me lamentando por não ter sido rápido o bastante, me esforcei ao máximo para bater minhas asas e dar o fora dali o mais depressa possível, antes que alguma daquelas raposas me visse e abocanhasse meu corpo. Não queria minha versão zumbi assumindo-o. 

As danadas enxergavam perfeitamente no escuro. Era uma infecção em larga escala, poderia se espalhar para mais matilhas, para além da floresta, contaminar reservatórios de água e lagos maiores. 

Passei a me importar menos com o Louis. Não por inveja por ele ter se safado como um bom sortudo, mas que estava tão desnorteado com a sombra bizarra e a luz ofuscante que não fez juízo de sua própria condição, nem de suas próprias chances de sobrevivência considerando a gravidade que aquilo atingiu. 

A dormência foi amenizando enquanto eu voava baixo e devagar, ainda correndo o risco de ser visto pelas desgraçadas. Esperava dar de cara com Joe ou Drake. Manny, na certa, já tinha virado jantar. Leslie e seu corpo pútrido já devia estar servindo de banquete para as larvas. A filmadora... sim, é isso! Meu objetivo passou a ser a encontra-la e leva-la para o acampamento. Caso alguém retornasse inteiro com certeza assistiria a filmagem do Manny e o exato momento em que ele é atacado, arrastado e devorado. E... ahn... ainda existia o grupo B. Já tinha me esquecido daquele bando de teimosos. Que a morte daquele gorducho tenha servido de exemplo. 

Não sabia que horas eram, mas, dando um palpite, acho que eram umas... 3 da manhã. 

Voei daquele mesmo jeito por horas, não sei quantas. Meio que vi de relance uns pontinhos vermelhos brilhantes nos pontos mais sombrios. Eu estava sendo seguido? Seria uma perda de tempo absurda se eu voltasse do caminho de onde vim para ter certeza. Eu não era delicioso para elas? Ah, qual é... Por outro lado, aquela suposição abrandou meu desespero de ser mordido de surpresa. Era como se permanecessem imóveis, me observando, mas se negassem a me atacar. Raposas devoram corvos, certo? Estou um nível abaixo na merda da cadeia alimentar e elas fingindo não estarem famintas pela minha carne.

Humanos sendo prioridades. Não me era surpresa.

Eu já havia me perdido mesmo, então voei um pouco mais alto, já conseguindo me mover com mais rapidez, e pousei meus pés em um galho de uma árvore alta. Fiquei lá até o amanhecer. E o descanso serviu para zerar os efeitos da luz em mim.

Enquanto o céu clareava, voei para uma direção aleatória, esperançoso por encontrar o acampamento ou a área onde ficava a casa perto do lago. Ou a filmadora do Manny. Ou o corpo do Lou... ops... err.. sim, o corpo do Louis, pobre coitado. O encontrei caído, com um pé decepado, as roupas em frangalhos e encharcadas de sangue, a carne dos braços, mãos e do rosto parcialmente comidas. Parece que ele se arrastou com todas as forças e agonizou ali mesmo. Imaginei ele correndo das raposas, mas elas, velozes, correndo atrás dele mordendo e arrancando cada pedaço até fazê-lo cair e depois, sei lá, fingir de morto, fazê-las ir embora e em seguida ele "ressuscitando" e rastejando feito uma barata sem uma das patas até ouvir o último batimento de seu coração. O cadáver do líder do grupo A já estava no limiar da decomposição, com centenas de moscas voando e passeando pelos seus membros comidos.

Decepcionado e um pouco triste, saí dali... claro, sem antes pegar o gravador que Louis deixou cair no caminho, com todas as informações acerca das investigações na floresta. Será que ele gravou os sons produzidos pelas raposas enquanto o perseguiam? Jamais saberei. Não sei mexer naquela coisa.

Deixei o aparelho no acampamento após um voo de, mais ou menos, 4 horas. Deve ter sido pura sorte minha conseguir encontrar o caminho de volta. Já era o 15º dia. Do acampamento segui de volta para a área onde estava o grupo B, pensando no pior - e lembrando dos esquecíveis e dispensáveis Joe e Drake. Ambos provavelmente mortos em uma área bem mais distante, não perdi meu tempo em procura-los.

Parei bem na metade do caminho quando me deparei com mais um cadáver de raposa. Digo... não de uma raposa não-infectada.

Era uma delas, sem dúvidas. Tinha um diferencial, bem horrendo por sinal: Sua barriga estava aberta, fora rasgada completamente e as entranhas pareciam finos tentáculos, tinham uma coloração vermelha e moviam-se como pequenas serpentes ou vermes de intestino. Aquilo contradizia minha teoria sobre elas serem vulneráveis a luz do dia. Ou talvez era uma raposa ainda em primeiro estágio de infecção e foi atacada por algum outro animal? Ou não reagiu bem à contaminação?

Perguntas demais e respostas de menos, já estava começando a odiar aquele lugar e já pensava em voar para bem longe com minhas forças totalmente recuperadas. A área ao redor do lago foi interditada por uma equipe de resgate. Ouvi um zumbido longínquo de helicóptero.

Lembra dos mantos colocados nas janelas da casa para impedir o odor fétido do lago de entrar pelas fissuras e infectar os fãs do programa documentarista? Estavam todos repletos de buracos, parecendo terem sido corroídos por algum tipo de ácido. Todos os membros da tal equipe vestiam as mesmas roupas protetoras do grupo A. A infecção no lago atingiu seu limite. Não pude me aproximar mais. Observei praticamente tudo de longe. Todos do grupo B saindo da casa às pressas, também vestindo roupas protetoras, em direção à uma van estacionada próxima a parte de trás da casa.

Acho que meu "trabalho" por ali já havia terminado.

O programa foi cancelado após as descobertas dos corpos dos apresentadores depois que a equipe se dividiu para acha-los, percorrendo toda a extensão da floresta. Curiosamente, voltei ao ponto onde encontrei a raposa com as tripas expostas. E ela ainda estava lá, para deixar minha cabeça mais intrigada com aquele mistério estressante. Até o fim da tarde do 15º e último dia, mantive a esperança de encontrar mais corpos de raposas, mas foi em vão. Provavelmente as raposas que beberiam do lago no estágio mais avançado de poluição morreriam daquela mesma forma.

Acredito que tenham encontrado a filmadora de Manny e visto as imagens gravadas. A menos que o filme tenha saído do aparelho no exato instante em que Manny foi atacado e ficado perdido por entre as folhas do solo. Eu fiz minha parte. Deixei o gravador no acampamento, certamente o encontrariam, mesmo não apresentando provas tão contundentes quanto as da filmadora.

Mas... por alguma razão, a tal silhueta de raposa humanoide me pareceu bastante familiar.

O chefão do crime? 

Ainda tenho a sensação de que ele não fugiu apenas por ter visto Louis gritar ao vê-lo... Sinto que toda essa história, de alguma forma, possui ligação comigo, só ainda não sei o que exatamente é.

Quem sabe, um dia, a verdade venha à tona e eu possa me lembrar das memórias adormecidas. 


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