Contos do Corvo #23


Ás vésperas de mais um Halloween, o corvo resolvera voltar ao seu local de "reflexão", um dos cemitérios aparentemente mais vitimados pelo descaso da população. Estava sob uma lápide, escolhida de forma aleatória, como sempre fazia.

A menina, por sua vez, aproximava-se dali com certa pressa em seus passos.

- Quem é vivo sempre aparece, hein. - disse ela, referindo-se ao tempo em que seu amigo noturno manteve-se "desaparecido". - Por onde andou nesses dias?

- Você, por outro lado, me parece mais... alegre. - disse o corvo, sem muita certeza. - Só tirei uns dias de férias, nada demais.

- Só estou feliz por revê-lo... Não confunda as coisas... Eu ainda não superei. - disse a menina, referindo-se aos pais mortos.

- Olha, se não lhe parecer um incômodo, eu, ahn... - disse o corvo, meio desajeitado, a cabeça meio baixa. - Quero dizer... Por acaso você lembra quem matou seus pais? Ou o quê os matou?

Por vários segundos, a pálida menina se limitou ao puro silêncio, encarando o nada pouco à vontade.

O corvo a olhava, paciente, sentindo-se meio culpado pelo olhar taciturno gerado pela menina por causa do peso da pergunta.

- Como eu pensei. Sou mesmo um estúpido. - disse o corvo, por fim expondo seu sentimento de culpa.

- Não, é que... - disse a menina, intencionando convencê-lo do contrário. - Err... - balançou a cabeça, sorrindo. - Quer saber? Esquece, deixa pra lá. A única pergunta que estou afim de responder é sobre o que achei da história de hoje.

- Já era tempo. - disse ele, aprontando-se para começar. - Também pouco me importa.

- Sério? - perguntou a menina, levantando uma sobrancelha.

O corvo ficara silencioso por um instante.

- Chega. Não tem muito o que dizer a respeito, mas lá vai: Isto ainda foi durante minha temporada naquele país, mas, na época em questão, já não voava com meu bando há tempos...

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                                                                     A NÉVOA ESCARLATE

Se me lembro bem, foi em Dakota do Sul. Passei a investigar, ocultamente, um dos casos mais indesvendáveis e assombrosos daquela cidade. Mas acho que, sei lá, fui confiante demais quanto a algum sucesso na missão e acabei sendo um trouxa ao não obter nenhum sucesso mesmo acompanhando investigações dos "especialistas no assunto". Era verão, eu não sei precisamente se é nesta época do ano específica que isso ocorre. Pessoas são encontradas mortas em lugares não muito movimentados e em horários tardios.

E o mais interessante: Em todos os casos sempre havia uma testemunha. Afinal, foi graças à elas que as mortes vieram ao conhecimento da polícia local. E o intrigante: Se presenciaram então porque não fizeram nada para amparar a vítima? Elas diziam ter visto uma névoa vermelho-sangue se formar lentamente pelos arredores, mas ganhando muito mais concentração em torno da vítima. Nenhuma delas sequer aparentou ter algum envolvimento nas mortes, pois sempre eram desconhecidos dos infortunados que respiraram a névoa.

Uma vez eu resolvi, corajosamente, presenciar a névoa, cerca de umas duas da madruga. Sim, eu realmente a vi. Começa absurdamente devagar, só depois adquirindo mais agressividade, por assim dizer. É fria, bastante fria. Pela primeira vez em toda minha vida eu pude sentir o medo nu e cru brotar de mim. Justo eu, tão acostumado a encarar várias coisas estranhas e bizarras, acabar por se borrar de medo diante de uma "nevoazinha de nada".

No entanto, eu não fui afetado, mesmo aquilo me induzindo à intimidação máxima a ponto de fazer de mim um reles submisso ao seu incontestável poder. Então, somente afetava humanos comuns.

Não demorava muito para que as pessoas mais próximas das vítimas também fossem pegas. O que mais chamou a atenção da polícia foram as mensagens encontradas nos celulares das vítimas secundárias. Possivelmente os remetentes poderiam ser as mesmas testemunhas, mas foi constatado que nenhum dos parentes formou um vínculo com elas após a confirmação das mortes.

Tendo isso em mente, era impossível realmente saber quem estaria por trás das mensagens enviadas poucos minutos antes das vítimas secundárias serem afetadas. E parava por aí. Sem terciários.

Todas as testemunhas negaram sobre as mensagens, mas alegaram terem se sentindo fora de si mesmas nos momentos em que observavam as pessoas morrerem em decorrência da névoa. Como se algo invisível estivesse controlando alguma região de seus cérebros e os impedido de agir. A vontade provinda delas mesmas de quererem ajudar aquelas pessoas era fraca demais mediante ao poder desta força invisível.

Não procurei nenhum sobrenaturalista que tivesse concedido algum entrevista esclarecedora, então resolvi por mim mesmo na base de teorias.

Provavelmente era alguma espécie de entidade sub-mundana que matava aleatoriamente para chamar a atenção de outros humanos. Talvez as mortes lhe servissem como alimento...

Digo isso pois, enquanto me sentia envolvido pela névoa, pude ver dois pequenos olhos negros. Se olhei diretamente para eles e não fui afetado, então significa que as vítimas, tanto primárias quanto secundárias, morriam apenas ao fazer isso e não exatamente respirando a névoa. Ela surge nos cantos mais escuros e menos perceptíveis. E quando menos se espera, todo o cenário a sua volta já está quase que inteiramente banhado em vermelho vivo e pulsante.

Nada explica as mensagens.

Mas de uma coisa tenho certeza: Essa névoa, ou seja lá o que poderia estar controlando-a, é uma das coisas mais tenebrosas que tive a chance de ver rondando meu corpo. 







*As imagens acima são propriedades de seus respetivos autores e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos ou intenções relativas a ferir direitos autorais. 




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