Crítica - A Noiva


É russo, parece americano e tem gosto de filme B.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Antes de iniciar, uma curiosidade: É o primeiro filme não-americano do gênero Terror/Horror que assisto. Vi o trailer recentemente, mas pouco me atentei ao detalhe de ser algo fora do país com maior produção cinematográfica do mundo (ou seria um no meio de alguns, não tenho dados estatísticos aqui). Apertei o play, não muito ciente de onde estava me metendo. Exatamente como a protagonista  Nastya (Victoria Agalakova), cuja intérprete não produz reações tão naturais em meio ao ambiente em que foi arrastada pelo marido, Ivan (Vyascheslav Cherperchenko), às vésperas do desejoso casamento. Ela tem uma ponta de suspeita em relação à família dele que possui uma tradição meio bizarra, um ritual que é o elemento-chave da trama sobrenatural apoiada pelo datado costume das fotografar pessoas mortas vestidas e pintar as pálpebras desenhando olhos.

A falta de naturalidade de Nastya progressa à medida que sua conexão com aquela família vai se fortalecendo até culminar na atípica cerimônia. Numa determinada cena, onde ela descobre Ivan, depois que o personagem some "do nada", aprisionado na casa, ela fica demasiadamente boquiaberta e a expressão facial não corresponde naturalmente a atmosfera da cena, logo numa cena em que ela mergulha mais fundo na trama sinistra dessa família estranha, ficou tudo meio teatral. Além disso, como se não bastasse as falhas reacionais, Nastya não usa bem a massa cinzenta. Naquelas circunstâncias, uma pessoa com pulso firme e segurança de si teria tomado uma atitude, pisado fundo no acelerador e vazava dali sem olhar para trás, acabou casamento, vai ser uma mulher bem resolvida, fazer escolhas melhores, recomeçar a vida e etc. Ela está consciente da sensação estranha de perigo e toda a aura sombria do lugar e permanece ali porque quer sentir o deslumbramento do casório, com vestido, véu e tudo mais. Ou o medo de ficar encalhada mesmo. E continua nessa vibe "tô pouco me lixando pro que tá rolando aqui, quero é me casar logo" com as visões confusas e que seriam razões suficientes para se tomar uma iniciativa. Mas ela não questiona, ela é receosa, curiosa e não tem lá muita noção de contexto. Ela só toma as dimensões da coisa quando se ferra.

O lance da possessão só funcionar com mulheres virgens foi uma conveniência de roteiro direcionada unicamente à protagonista que, cenas antes, revela ter consumado a relação com Ivan. O segundo ato inteiro se rasteja com explicações ineficientes, dando obrigatoriedade ao terceiro de proporcionar pelo menos algum convencimento que nos faça ter empatia pelo conjunto ao todo. A personagem Lisa foi a "heroína" do clímax ao se render à entidade e acabar sendo possuída pela mesma (com direito a voz demoníaca). Desde o início vi ali nela um ar de relutância denotado principalmente no momento em que Nastya é forçada ao ritual e ao menos esboça um lapso de reação que condiz à situação. O pedido para cuidar das duas crianças foi previsível e só achei muito inverossímil ela atear fogo em si mesma e não se propagar pelo resto da casa. Ideia idiota que antes fosse bem trabalhada daria um sensação de fechamento á trama. A casa inteira pegar fogo, pronto, morreu o plot, fim da história. Mas não. A casa ficou intacta para suscitar um epílogo que consequentemente elucida o clichê da casa mal-assombrada, a família nova tem quer sobreviver à entidade e blá blá blá.


Aproveite bem as cenas com a noiva, caso se sentir interessado em ver, elas são curtas e só ocorrem no clímax e rapidíssimo no epílogo, um segundo antes dos créditos subirem. Foi relativamente sub-aproveitada, mas fez bagunça, ameaçou, matou e fez atos que se espera de uma entidade maligna. Aquele grito é medonho. Ela merecia um tratamento alongado. Pelo menos acertaram muito bem no figurino e na maquiagem, um rosto tão branquinho como porcelana e olhos tão profundos quanto um abismo. A sensação foi de que ela serviu mais como artigo de luxo para maquiar as pontas soltas do roteiro um pouco confuso. Será que a legenda do filme era fraca ou os diálogos? A segunda opção soa mais verdadeira. Para se ter personagens interessantes, é preciso um texto criativo, algo que não foi prezado em 98% da produção, trazendo uma sensação de monotonia. Os 2% ficam para o prólogo.

Na parte técnica, o longa de Svyatoslav Podgayevskiy (isso é um trava-língua!) até que se sai bem, com uma fotografia escura e bem tonalizada. É o filme com a paleta certa mas com desenvolvimento errado. O famoso jump scare funcionou comigo umas três vezes, mas de forma leve, nada de fazer pular da cadeira e se estremecer todo. Porém, em maior parte, a pretensão em assustar só por assustar é bem descarada.

Considerações finais:

A Noiva (Hebecta, no original, ou Nevesta ou The Bride) não chegou nem na metade de cumprir o potencial da sua trama, deixando várias pontas injustificadas. Por exemplo: Ivan cogita quebrar a maldição perto do fim do segundo ato e quando é na hora do "vamo ver" ele parece se esquecer disso e a missão se torna apenas escapar com vida da casa. E o negativo? Enfim, foi criado um plot minimamente interessante e não souberam engrenar com ele de forma substancial. Enquanto espectador não fui recompensado por ter sido levado pelo enredo até o final.

NOTA: 6,0 - REGULAR

Veria de novo? Provavelmente não. 



*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://seriesemcena.com.br/noticias/2017/08/novo-filme-de-terror-noiva-tem-trailer-assustador-divulgado/
                                   https://terrordequinta.com/2017/05/16/nevesta-ou-the-bride-vale-a-pena/


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