Crítica - Quando as Luzes se Apagam


A abordagem de um medo clássico não gera um clássico, mas é efetivamente funcional.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Será que finalmente perdi o "dedo podre" para filmes de terror? Ainda há esperança? Bem, primeiramente, devo dizer que o principal atrativo para mim a respeito desta película foi explorar, mesmo que de forma simplista, o medo, a meu ver, considerado o mais irracional de todos. Afinal, quem nunca teve medo de apagar a luz da cozinha (por exemplo) temendo que algo pudesse irromper da escuridão para arrasta-lo até a morte? Um negócio comum que de repente é transposto à tela sem maiores problemas. Claro, sob um pano de fundo realmente esforçado para mostrar-se convincente porque sem isso não faria sentido - na verdade seria patético - o filme se levar tão a sério. O longa, lançado em Agosto de 2016 aqui neste país tropical, foi inspirado (pegaram a nata do essencial) por um curta-metragem homônimo (Lights Out) com a diferença de que a trama foca-se numa família aterrorizada por uma entidade sobrenatural que só pode se manifestar no escuro e que se trata de uma ex-amiga de infância de uma garota dessa família.

Já no filme, temos a jovem Rebecca que durante a infância já foi atormentada por medos comuns que qualquer criança normalmente lidaria, em especial do escuro. A aparição da tal entidade para o irmão mais novo dela, Martin, que mora com a mãe enlutada pela morte do marido (adivinha por quem), é o ponto de partida para os desdobramentos que se seguem durante o longa na apuração de peças para completar o quebra-cabeça que, contudo, acaba sendo bem fácil e nem a sensação de onipresença que a perigosa Diana (a força maligna) transmite pôde ser capaz de trazer desafios amedrontadores no segundo ato onde a reunião de provas é o objetivo precedente à procura de soluções finais. Tudo começa definitivamente na casa da mãe e termina lá mesmo (onde mais podia ser?).

A personagem Rebecca, a qual possui uma relação meio conturbada com a mãe, Sophie (uma mulher esquizofrênica), meio que carrega tudo nas costas, sobretudo no clímax, embora sua intérprete traga uma atuação razoável. O mesmo pode não se dizer sobre Martin que em alguns momentos esboça expressões de medo inconvincentes, diria que até forçadas, mas dá para se compadecer dele e torcer para não dar de cara com a "amiga" oculta de sua mamãezinha perturbada. Diana, de longe, é o apogeu perseguidor. Achei bastante interessante a ideia da entidade necessitando da fragilidade psicológica de uma pessoa para estar conectada à ela. Sophie era a favorita, a imunizada de ser trucidada pelas mãos ruidosas e esqueléticas de Diana por conta do passado que tiveram juntas em um manicômio - local onde a própria Diana encontrou sua morte e cuja trama justifica sua ligação à Sophie que é proibida de tomar os remédios. Ela era uma garota hipersensível à luz e foi submetida a um intenso experimento (que tinha tudo para dar merda) que provocou a sua morte pela exposição máxima (reduzida às cinzas, pra ser exato, como se tivesse sido condenada a ser incinerada no Sol).


O lance de luz vs. trevas é algo bem implícito. Diana tinha suas trevas interiores e após a morte acidental usaria o impulso natural delas para agir sob a face puramente maligna nas trevas exteriores. Longe de criticar o orçamento da produção, muito pelo contrário, é reconhecível o quão satisfatório foi utilizarem da ocultação para torna-la assombrosa. Pode ser que funcione melhor assim: Não superexpor entidades sobrenaturais de forma a deixa-las de "cara limpa" o filme todo, acho que isso promove maior impacto quando o jump scare - fortificado pela ausência de trilha sonora que o precede - se faz necessário (e além disso bem utilizado, o que aqui, felizmente, é o caso, levei, pelo menos, uns quatro ou cinco sustos REAIS e isso é um pró gigantesco para alguém que passou anos vendo o gênero murchar e minguar nos clichês com filmes duvidosos nesse quesito). Há alguns rápidos vislumbres da aparência total de Diana e que, por sinal, lembram outra entidade, a Mama (2013). Sobre o lance da ocultação, isto lembrou também a Samara, de O Chamado, com aquele cabelo de um preto vivo cobrindo todo o seu rosto. Aqui a coisa manifesta-se inteiramente sombria, tem muita presença e tem performance de fazer o sangue gelar. Nada de ação "cereja do bolo" ou reservar o melhor só para o final, Diana age como uma errante psicótica das trevas destacadamente nos três atos. A sucessão de jump scares eficazes me fez ter um certo medo de levar o próximo susto.

O filme de David. F. Sandberg desfruta da paleta de cores em tonalidade na medida certa. A conveniência óbvia de roteiro foi a lâmpada de luz negra, tirada "da cartola" na intenção de pesar menos o perrengue da protagonista na luta contra Diana, lhe dando uma vantagem. A fonte luminosa específica é usada como arma pois ela é a única capaz de tornar Diana visível e ao mesmo tempo vulnerabiliza-la. Mas o trabalho vindo disso tudo é parcial, não tem a menor função conclusiva. O que se fez deveras aliviador, diga-se de passagem. Nunca que seria alternativa para obliterar Diana completamente. O roteiro apelou para a resolução mais drástica: o suicídio de Sophie - arma possivelmente tirada de um dos policiais chamados por Bret e que, claro, foram vitimados por Diana. Havia outra escolha sim para cortar a ligação: os remédios. Ela podia obter mais daqueles frascos laranjas e ir se livrando aos poucos do controle de Diana (com esforço, porque a bicha é uma "amiga" ciumenta pra cacete). Porém, é aquele negócio: tempos de desespero...

O personagem Bret parecia tão descartável no início, pensei que fosse apenas um parceiro ocasional de sexo barato para Rebecca (não estou chamando a personagem de vadia, apenas que esse cara ela poderia chutar como se não significasse nada não tendo nem um mês de namoro, só interessada no prazer). No fim das contas, acabou desempenhando um bom apoio sem fugir desse perfil. Por um instante, achei que ia fazer parte da listinha negra da Diana. Essa coisa de uma morte derivada de uma causa sobrenatural suscitar um recomeço de vida não é nova. Supernatural, por exemplo, em seu longínquo início, já fez (bom) uso dessa virada. Agora o garoto Martin tem uma nova família ao lado da irmã e do namorado dela, mas com a vida de hábitos nada decentes que ela leva, ficou uma incógnita sobre o futuro lar dele (acho que a mulher do Conselho Tutelar venceu).O resultado é a sensação de fechamento sólido sem frestas possíveis de serem abertas para uma sequência.

P.S1: Se tem James Wan na produção é certeza de filmaço (vide Invocação do Mal 1 e 2).

P.S2: A duração poderia se alongar um pouco. Uma hora e vinte minutos fizeram o clímax correr mais rápido do que deveria.

P.S3: O prólogo tem a previsibilidade mais escancarada com a primeira vítima de Diana: o marido da sua melhor amiga - como evidenciado pelo desenho de Rebecca criança onde ela rouba-o e rasura o pai desenhado e insere um boneco-palito indicando a si mesma como parte da família. Vai ser ciumenta assim no inferno...

Considerações finais:

Quando as Luzes se Apagam é uma digna surpresa por tirar proveito de uma fobia clássica ainda que não torne-se lembrado ou enaltecido como um terror relevante e/ou parelho à obras consagradas do gênero. Não "reinventa a roda" para o terror/horror sobrenatural, mas dá tiros certeiros nos alvos em meio a uma tensa trama onde ir pela sombra não é exatamente o melhor conselho.

NOTA: 9,0 - ÓTIMO 

Veria de novo? Sim. 


*As imagens são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagens retiradas de: http://cinepop.com.br/quando-as-luzes-se-apagam-116520
                                    https://cromossomonerd.com.br/quando-as-luzes-se-apagam-e-uma-boa-opcao-de-filme-de-terror/

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